A
Parashá dessa semana narra o fatídico pecado do bezerro de ouro, quando Bnei Israel,
logo após ter recebido os dez mandamentos, ao achar que o líder Moshe não
desceria mais do Har Sinai, construiu um bezerro de ouro e o chamou de Deus. O
advogado de defesa do povo foi, obviamente, Moshe, que dialogou extensamente
com Hashem a fim de conseguir o perdão de D’us.
Em certo momento, Moshe apelou para
um argumento pesado, quase que uma ameaça. Disse Moshe para Hashem: “E agora,
se Você perdoar o povo, ou se não perdoar, apague-me do livro que você escreveu”.
Moshe pediu para Hashem apagar o seu nome do livro da Torá, com o objetivo de
conseguir o perdão para Am Israel.
O Kli Yakar (+-1600, Polônia e Praga), um grande comentarista da Torá,
faz uma observação muito interessante. Se analisarmos o passuk, Moshe não
apenas condicionou a sua solicitação na possibilidade de Hashem não perdoar o
povo, como também pediu para seu nome ser apagado do livro mesmo que D’us
perdoasse Am Israel. Explica o Kli Yakar que em ambos os casos Moshe via a
necessidade desta punição. Primeiramente, mesmo que Hashem aceitasse o seu
pedido de desculpas, ainda faltaria uma Kapará, expiação do pecado. As
desculpas serviriam daquele momento em diante, mas ainda seria necessário fazer
algo para expiar e limpar o pecado que havia sido cometido. Por outro lado,
caso Hashem resolvesse não desculpar o povo, Moshe não teria mais nenhum motivo
para viver, e, portanto, poderia ter seu nome apagado da Torá. Por isso Moshe
sugeriu a D’us que tirasse o seu nome da Torá de qualquer maneira. No final, Hashem
não acatou o seu pedido, mas como as palavras de um Tzadik nunca são em vão,
este foi executado em uma das Parshiot, Tetsave, que lemos na semana passada.
Mas qual seria a vantagem de se apagar o nome de Moshe da Torá? Seria
esta uma punição aleatória que ele sugeriu à Hashem ou será que havia uma lógica
por traz do seu pedido? Para responder essa pergunta o Maguid de Duvna (1740-1804,
Bielorrúsia) nos conta a seguinte parábola:
Em certo reino, havia um ministro muito importante do rei, que possuía um
parente próximo que estava sempre cometendo delitos. Este ministro se
preocupava bastante com o seu parente, e sempre lhe salvava a pele, ao falar
com o rei para não puni-lo. Certo dia, porém, o parente cometeu um crime muito
mais serio do que os anteriores. O crime foi tão serio que o ministro resolveu
pedir ao rei para demiti-lo. “Por que? O que você fez de errado?”, perguntou o
rei. O ministro respondeu: “enquanto eu estiver próximo de você, meu parente sempre
contará com o fato de que eu o defenderei, e continuará cometendo crimes.”
A mesma coisa com Moshe. Toda vez que Am Israel pecava, Moshe
imediatamente advogava por eles e conseguia o perdão de D’us. Após o bezerro de
ouro, Moshe não aguentou, devido à severidade do pecado. Ele não queria mais
ser usado como uma “garantia” pro povo pecar sabendo que haveria alguém para
limpar a sua sujeira.
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