quinta-feira, 28 de julho de 2016

Pinchas - A Mensagem do Meritíssimo Moshe


A Parashá dessa semana é muito vasta, cheia de acontecimentos interessantes, como a nomeação de Pinchas para ser um Kohen, mais uma contagem do povo e os sacrifícios que eram oferecidos no shabat e nas festividades. Além disso, em nossa Parashá Moshe se deparou com uma questão complicada sobre herança. Eis o caso: cinco mulheres se aproximaram dizendo que seu pai, chamado Tselofchad, havia falecido, e não deixara herdeiros homens. A questão se relacionava com a divisão da terra de Israel, quando no futuro, após sua conquista, cada família de Am Israel (com exceção dos Leviim) receberia uma parte. Porém, apenas os homens eram considerados nessa divisão. Essas cinco mulheres, então, queriam saber se poderiam receber a parte da terra que caberia ao seu falecido pai.
Diz então o passuk: “E Moshe trouxe o caso delas perante Hashem” (Pinchas 27,5). Moshe foi se consultar com Hashem acerca da solução para esse caso, e então a Torá nos apresenta todas as leis de herança, que são minuciosamente discutidas na Gemará, no tratado de Baba Batra. No final, as cinco filhas acabaram herdando a terra de seu pai.
Contudo, a reação de Moshe à essa questão foi um tanto estranha. Moshe sabia todas as leis. Geralmente, ele respondia com facilidade a todas as perguntas. O que aconteceu aqui, que ele teve que ir perguntar para Hashem?
Rashi explica que o que aconteceu em nossa Parashá foi influenciado por algo que Moshe havia feito anteriormente. Em Parashat Itro, Moshe selecionou juízes para cuidar dos casos do povo, pois ele sozinho não conseguia faze-lo. E quando os escolheu, Moshe disse o seguinte aos juízes: “O que for difícil para vocês, tragam para mim (que eu resolvo)” (Dvarim 1,17). Então, por causa do que Moshe disse naquele episódio, ele acabou tendo que ir perguntar para Hashem o que fazer com relação ao caso da herança em nossa Parashá. Como entendemos esse Rashi?
Existe uma explicação simples para as palavras de Rashi. Moshe agiu com certa arrogância em relação aos juízes, foi um pouco orgulhoso ao dizer que poderia resolver tudo e estava acima de todos, e por isso Hashem lhe puniu e fez com que ele não soubesse a resposta para o caso das cinco filhas de Tselofchad. Realmente, é assim que muitos entendem esse Rashi.
Porém, ao refletirmos, esta explicação não faz muito sentido. Moshe foi a pessoa mais humilde da face da terra. Era o líder, um exemplo para todos. É muito difícil imaginar que ele falaria com tal arrogância.
Explica o Rebe de Gur (1866-1948, Polônia) que devemos entender a explicação de Rashi de uma outra maneira. Quando Moshe disse aos juízes para lhe procurarem quando algum julgamento fosse difícil, ele não quis questionar a capacidade dos juízes de julgar o caso. A intenção de Moshe era que caso algum juiz se sentisse incapaz de julgar um caso por ser diretamente relacionado à alguma das partes, este não deveria realizar o julgamento, mas sim trazer o caso para Moshe resolver imparcialmente. Essa era a “dificuldade” mencionada por Moshe: para que nenhum juiz julgasse um caso tendenciosamente.
Da mesma forma, foi exatamente isso o que aconteceu em nossa Parashá. Na introdução à sua “petição”, as filhas de Tselofchad disseram à Moshe a seguinte frase: “Nosso pai não fazia parte da rebelião de Korach e seus seguidores” (Pinchas 27,3), com a intenção de demonstrar que Tselofchad não fazia parte daquele terrivel grupo de rebelde; ele era uma boa pessoa. Porém, uma vez que a rebelião de Korach era contra Moshe, ele acabou então se sentindo incapaz de julgar o caso de Tselofchad com imparcialidade. Já que o homem havia ficado ao seu lado durante o motim, Moshe estava com medo de favorecer suas filhas no veredicto. Sendo assim, optou por levar o caso à Hashem.

Agora podemos entender exatamente o que Rashi quis dizer em sua explicação. Moshe agiu aqui da mesma maneira como havia ordenado os outros juízes a agir. Não foi uma punição, mas sim uma consequência do caso. Moshe nos ensina a tomarmos muito cuidado quando fazemos nossas escolhas, formamos nossa opinião acerca de qualquer assunto, para que não o façamos tendenciosa e parcialmente. É preciso pensar e agir com objetividade, baseando-se em fatos e em racionalidade.

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