A
Parashá dessa semana é muito vasta, cheia de acontecimentos interessantes, como
a nomeação de Pinchas para ser um Kohen, mais uma contagem do povo e os sacrifícios
que eram oferecidos no shabat e nas festividades. Além disso, em nossa Parashá
Moshe se deparou com uma questão complicada sobre herança. Eis o caso: cinco
mulheres se aproximaram dizendo que seu pai, chamado Tselofchad, havia
falecido, e não deixara herdeiros homens. A questão se relacionava com a divisão
da terra de Israel, quando no futuro, após sua conquista, cada família de Am Israel
(com exceção dos Leviim) receberia uma parte. Porém, apenas os homens eram considerados
nessa divisão. Essas cinco mulheres, então, queriam saber se poderiam receber a
parte da terra que caberia ao seu falecido pai.
Diz
então o passuk: “E Moshe trouxe o caso delas perante Hashem” (Pinchas 27,5).
Moshe foi se consultar com Hashem acerca da solução para esse caso, e então a
Torá nos apresenta todas as leis de herança, que são minuciosamente discutidas
na Gemará, no tratado de Baba Batra. No final, as cinco filhas acabaram
herdando a terra de seu pai.
Contudo,
a reação de Moshe à essa questão foi um tanto estranha. Moshe sabia todas as
leis. Geralmente, ele respondia com facilidade a todas as perguntas. O que
aconteceu aqui, que ele teve que ir perguntar para Hashem?
Rashi
explica que o que aconteceu em nossa Parashá foi influenciado por algo que
Moshe havia feito anteriormente. Em Parashat Itro, Moshe selecionou juízes para
cuidar dos casos do povo, pois ele sozinho não conseguia faze-lo. E quando os
escolheu, Moshe disse o seguinte aos juízes: “O que for difícil para vocês,
tragam para mim (que eu resolvo)” (Dvarim 1,17). Então, por causa do que Moshe
disse naquele episódio, ele acabou tendo que ir perguntar para Hashem o que
fazer com relação ao caso da herança em nossa Parashá. Como entendemos esse
Rashi?
Existe
uma explicação simples para as palavras de Rashi. Moshe agiu com certa arrogância
em relação aos juízes, foi um pouco orgulhoso ao dizer que poderia resolver
tudo e estava acima de todos, e por isso Hashem lhe puniu e fez com que ele não
soubesse a resposta para o caso das cinco filhas de Tselofchad. Realmente, é assim
que muitos entendem esse Rashi.
Porém,
ao refletirmos, esta explicação não faz muito sentido. Moshe foi a pessoa mais
humilde da face da terra. Era o líder, um exemplo para todos. É muito difícil imaginar
que ele falaria com tal arrogância.
Explica
o Rebe de Gur (1866-1948, Polônia) que devemos entender a explicação de Rashi
de uma outra maneira. Quando Moshe disse aos juízes para lhe procurarem quando
algum julgamento fosse difícil, ele não quis questionar a capacidade dos juízes
de julgar o caso. A intenção de Moshe era que caso algum juiz se sentisse
incapaz de julgar um caso por ser diretamente relacionado à alguma das partes,
este não deveria realizar o julgamento, mas sim trazer o caso para Moshe
resolver imparcialmente. Essa era a “dificuldade” mencionada por Moshe: para
que nenhum juiz julgasse um caso tendenciosamente.
Da
mesma forma, foi exatamente isso o que aconteceu em nossa Parashá. Na introdução
à sua “petição”, as filhas de Tselofchad disseram à Moshe a seguinte frase: “Nosso
pai não fazia parte da rebelião de Korach e seus seguidores” (Pinchas 27,3),
com a intenção de demonstrar que Tselofchad não fazia parte daquele terrivel
grupo de rebelde; ele era uma boa pessoa. Porém, uma vez que a rebelião de
Korach era contra Moshe, ele acabou então se sentindo incapaz de julgar o caso
de Tselofchad com imparcialidade. Já que o homem havia ficado ao seu lado
durante o motim, Moshe estava com medo de favorecer suas filhas no veredicto.
Sendo assim, optou por levar o caso à Hashem.
Agora
podemos entender exatamente o que Rashi quis dizer em sua explicação. Moshe
agiu aqui da mesma maneira como havia ordenado os outros juízes a agir. Não foi
uma punição, mas sim uma consequência do caso. Moshe nos ensina a tomarmos
muito cuidado quando fazemos nossas escolhas, formamos nossa opinião acerca de
qualquer assunto, para que não o façamos tendenciosa e parcialmente. É preciso
pensar e agir com objetividade, baseando-se em fatos e em racionalidade.
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