Na
última quarta-feira, a presidente afastada, Dilma Roussef, enviou para a comissão
do impeachment no Senado um depoimento, defendendo-se das acusações recebidas. Além
de tentar explicar porque não deve ser “impeachada”, Dilma aproveitou a situação
para criticar o governo Temer, dizendo que o mesmo agiu de forma “elitista e
oportunista”. O que significa que Temer foi oportunista? Isso é uma coisa ruim?
Afinal, claro que foi ele quem virou o presidente em exercício com o
afastamento de Dilma, por ser seu vice na chapa! O que Dilma esperava que ele
fizesse, se não tentar governar em meio a toda essa bagunça? Dilma está
atirando para todos os lados, sem pensar muito no que fala (ou escreve).
Bagunça
é uma palavra que já virou praxe no livro de Bamidbar. A grande maioria das
Parshiot desse livro nos relatam acontecimentos tristes, complicados na história
de nosso povo. Com a Parashá dessa semana, não é diferente. No inicio de nossa Parashá,
temos a rebelião de Korach e seus seguidores, que tentaram organizar um motim
contra Moshe e Aharon, reivindicando a liderança do povo judeu. Segundo eles,
todos os integrantes de Am Israel eram capacitados para comandarem o povo, e não
havia motivos suficientes para Moshe ser o líder. No final, a rebelião foi
contida após vários milagres de Hashem, culminando com uma morte trágica dos
insurgentes, engolidos pela terra.
Muitos
comentaristas tentam explicar o que foi que Korach realmente viu (ou pensou),
que engatilhou essa indignação, levando-o a questionar a credibilidade de Moshe.
Rashi, em seu comentário no Chumash, explica que todo o problema para Korach
foi o fato de Moshe ter escolhido o seu primo, Elitzafan, para ser o chefe de sua família. Os pais de Korach e Elitzafan eram irmãos. E Korach entendia
que, uma vez que seu pai era mais velho, ele deveria receber esse cargo ao invés
de Elitzafan. Então, reagindo ao que em seus olhos era uma grande injustiça, rebelou-se
contra Moshe.
A
pergunta que surge sobre esta explicação é o momento desse acontecimento.
Elitzafan foi escolhido presidente de sua tribo logo após a inauguração do
Mishkan. Já fazia um bom tempo. Por que, então, Korach esperou tanto para colocar
em prática a sua revolta?
Explica
o Ramban (1194-1270, Espanha e Israel), um dos grandes comentaristas do Tanach,
que caso Korach reclamasse de Moshe logo após a nomeação de Elitzafan, quando o
povo se encontrava em festa, na crista da onda após a inauguração do Mishkan, ninguém
iria ouvi-lo. Agora, porém, muita água já havia se passado. O povo havia
presenciado problemas extremamente sérios como as crises dos espiões e da
carne, e Korach sentiu que essa crise política seria o melhor momento para contestar
o líder, Moshe.
Korach,
então, foi oportunista? E Temer? O dicionário Michaelis define “oportunismo”
como a “habilidade em aproveitar os fatos ou circunstâncias para obter algo.” Agir
com oportunismo não necessariamente significa agir com ma fé e tirar proveito
de outras pessoas ou de suas ações. Todos, em nossas vidas, somos oportunistas.
Quem nunca pediu à um amigo que estava no supermercado para lhe comprar alguma
coisa? Quem nunca aproveitou uma promoção de passagem aérea para comprar suas
viagens que já estavam programadas? Você já usou a sua nacionalidade brasileira
para ganhar descontos em lojas nos Estados Unidos? Já pegou carona? Exemplos não
faltam de situações nas quais fomos oportunistas. Oportunismo não é um defeito.
Tudo depende dos seus objetivos e da maneira como faz para alcança-los. Korach
agiu com oportunismo a fim de se rebelar contra os lideres de Am Israel; algo horrível.
Temer nada mais fez do que exercer a presidência que a situação lhe ofereceu.
Nós, em nossas vidas, temos de saber aproveitar as oportunidades que nos são oferecidas,
nos tornando, assim, “bons oportunistas”.
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