Na
noite de quarta para quinta-feira, mais uma tragedia aconteceu em Israel,
quando um terrorista palestino assassinou brutalmente, a facadas, uma menina de
13 anos que dormia em sua casa, na cidade de Kriat Arba. Ao ler uma noticia tão
terrivel como esta, senti um aperto no coração. Até quando monstros como esse
continuarão tirando a vida de pessoas inocentes? Em situações tão difíceis como
essa porém, há de se encontrar forças para se recuperar emocionalmente e seguir
em frente.
A
Parashá dessa semana se inicia com o trágico relato dos Meraglim, os espiões
que foram enviados à Israel a fim de trazer informações sobre a terra e seus
habitantes, e que acabaram falando muito mal da terra, assim como não acreditando
na possibilidade do povo judeu de conquista-la. Eram parte, porém, do grupo dos
espiões, duas boas pessoas que não concordaram com o relato que foi dado no fim
da viagem: Yeoshua e Kalev. Estes tiveram uma visão positiva da terra, e tinham
fé na conquista de Israel. Contudo, escutar o falso e desesperançoso discurso dos
espiões, Yeoshua e Kalev reagiram de formas completamente diferentes.
Diz
o passuk: “E Kalev calou o povo, por Moshe, e disse: podemos subir (para Israel),
e conquistar a terra, pois temos totais condições de faze-lo” (Shlach 13,30). Bnei
Israel, após ouvir o que os Meraglim tinham para dizer, estavam transtornados,
chorando por acharem que não conseguiriam conquistar a terra de Israel. E nesse
momento, Kalev tomou a dianteira e disse que ainda havia esperança. Que o povo
havia apenas escutado um lado tendencioso da história. Kalev não se intimidou. Onde,
porém, estava Yeoshua nesse momento em que Kalev, Moshe e o próprio povo, precisavam
urgentemente de seu apoio e de suas palavras encorajadoras?
Explica
o Meshech Chochma (1843-1926, Lituânia e Letónia) que o motivo para Yeoshua ter
se ocultado não era medo, mas sim estratégia. Para entender o sentido de seu
silencio, devemos analisar o principal motivo pelo qual o povo judeu pensava
que seria impossível de conquistar Israel. Explica o Meshech Chochma que o medo
do povo se originou de uma soma de dois fatores: o discurso dos espiões, e um
episodio que ocorreu na Parashá passada.
No
shabat passado, lemos em Parashat Behaalotchá que duas pessoas de nomes Eldad e
Meidad tiveram uma profecia e proferiram perante todo Am Israel que Moshe iria
falecer e Yeoshua seria o líder que levaria o povo à Israel. Apesar de não ter
sido dada muita enfase a esse episodio, ele causou um grande alvoroço no povo,
uma vez que eles acreditavam que todas as suas conquistas até o momento haviam
acontecido devido à Moshe. Ninguém podia imaginar nenhum passo dado sem o líder
que os tirou do Egito. E quando, apenas alguns dias depois, escutou a opinião pessimista
dos espiões, que seria impossível conquistar a terra de Israel, que teriam de
lutar contra gigantes que viviam em cidades fortificadas, Am Israel entrou em
desespero. A guerra em si já tinha tudo para ser quase impossível. Imagine então
sem o líder Moshe, aquele que havia feito todos os milagres desde a saída do
Egito!
E
foi aí que Kalev entrou em cena, dizendo que o povo tinha entendido tudo
errado. Obviamente, Moshe, o maior líder da história do povo judeu, tinha o seu
(imenso) valor. Porém, as forças para todos os milagres que ele executava não eram
suas. Elas vinham de Hashem, que tinha no líder um mensageiro, uma mão que agia
nesse mundo material. Apesar de Yeoshua se encontrar num nível inferior a Moshe
(a Gemará compara Moshe ao sol e Yeoshua à Lua, que apenas reflete a luz
solar), Hashem seria aquele que, através do líder, daria as forças ao povo para
vencer a guerra. Como bem disse Kalev, o povo, com a mão de D’us, tinha totais condições
de conquistar a terra de Israel, independentemente de não poder contar com
Moshe.
Por
isso Yeoshua não falou nada naquele momento. Pois ele era o centro das atenções,
havendo sido o protagonista do episodio passado, o nome que, segundo a
profecia, substituiria Moshe no futuro. Se Yeoshua falasse alguma coisa em relação
ao discurso dos espiões, o povo acharia que ele estava apenas agindo por
interesse próprio, fazendo campanha para ter o poder. Sendo assim, Yeoshua
logicamente decidiu que o melhor a fazer naquele momento era ficar em silencio
e deixar Kalev argumentar.
Israel
e os judeus que lá habitam vivem sob constante tensão. Uma região instável, repleta
de inimigos e diversas nações que nos abominam. Além disso, Israel está repleta
de palestinos que são constantemente incitados a odiar e atacar brutalmente judeus
inocentes. É impossível prever e impedir 100% dos ataques terroristas, e isso
causa um tremendo medo, mesmo em quem se encontra longe, em outro continente.
Pois todos somos parte de uma nação, e cada episodio triste que ocorre em Israel
nos machuca igualmente. Em momentos difíceis como o de hoje, nos resta rezar
pelos mortos e feridos, e incorporar as palavras de Kalev: nunca esquecer que há
alguém lá em cima olhando a Sua terra e cuidando de Seu povo.
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