Nesses
últimos meses, com a iminência do impeachment da presidente Dilma e a votação do
mesmo na Câmara dos Deputados e no Senado, muito se ouve falar sobre quem são as
pessoas que estão decidindo o futuro de nosso país, ao aceitar o processo, e julgar
a situação de Dilma. Um comentário muito pertinente que surge frequentemente
nas espinhosas discussões que ocorrem Brasil afora se refere às fichas desses
deputados e senadores. Afinal, uma boa parte daqueles que estão acusando Dilma
de atentar contra a constituição é investigada na operação Lava Jato. Isso, não
apenas expõe a desagradável situação na qual se encontra nosso país, mas também
levanta a seguinte questão: que moral teriam estes investigados, suspeitos de
diversos crimes, de julgar o impeachment da presidente?
A
Parashá dessa semana é repleta de Mitsvot e ensinamentos, e há muito sobre o
que falar. Vamos, porém, focar em uma lição que não está totalmente explicita,
mas de suma importância. Diz a Torá: “você deve advertir o seu companheiro”
(Kedoshim 19,17). O objetivo desse passuk é ensinar a Mitsvá de “tochachá”, que
diz que cada integrante do povo judeu é responsável pelo próximo, e, portanto,
deve alertar o companheiro caso o veja fazendo algo errado.
Após
mais de um ano se inteirando com os Divrei Torá semanais, já pudemos aprender algumas
maneiras de se analisar um passuk da Torá. Dentre as mesmas, uma das mais
comuns é a analise de palavras duplicadas, que, a principio não precisariam estar
escritas para transmitir a ideia do versículo. Ao analisarmos o passuk relatado
acima, veremos que a palavra “advertir” está escrita duas vezes. Em sua
primeira instância, ela está conjugada no imperativo. E na segunda vez, no
futuro. Obviamente, se o objetivo fosse apenas relatar que um judeu deve
advertir o outro caso o veja fazendo algo errado, a Torá não precisaria ter
escrito duas vezes a mesma palavra. E alem disso, por que essa diferença na conjugação?
O
passuk está escrito dessa forma para passar uma importante mensagem, intrínseca
no mandamento principal que estava sendo relatado. Devemos sempre aprender (ou
relembrar, para aqueles que já sabem), que não é qualquer um que pode advertir
o seu companheiro. Para que isso seja feito, é preciso que a pessoa tenha moral
suficiente a ponto de que seja ouvida. Não adianta nada alguém chegar
criticando um colega, lhe dizendo como agir, se o próprio autor da critica não age
da forma correta. Por isso o passuk diz primeiramente, no imperativo: “advirta”!
A quem? A si próprio. Antes de ir mexer com a vida do outro, veja se você tem
moral, faz as coisas corretamente. Aí vem a segunda etapa, “você advertirá” o
seu companheiro.
É
muito fácil comentar sobre algo de errado que o outro está fazendo. Inclusive,
isso geralmente traz um sentimento de satisfação, pois você se sente superior a
ele. Porém, como diz o passuk, devemos primeiramente olhar para a nossa própria
situação e corrigirmos os nossos próprios atos, para depois olharmos pros lados.
No caso do impeachment no Brasil, seria impossível corrigir os atos de todos os
deputados e senadores, investiga-los e julga-los, antes de realizar o
impeachment. É muita gente, e a situação é urgente. Portanto, não há o que
fazer. Estes políticos são os que lá estão e o impeachment precisava acontecer,
sendo eles limpos ou não. Porém, nas vidas de cada um de nós, essa lição pode muito
bem ser aplicada.
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