quinta-feira, 12 de maio de 2016

Kedoshim - O Impeachment e a Mitsvá de Advertir o Próximo


Nesses últimos meses, com a iminência do impeachment da presidente Dilma e a votação do mesmo na Câmara dos Deputados e no Senado, muito se ouve falar sobre quem são as pessoas que estão decidindo o futuro de nosso país, ao aceitar o processo, e julgar a situação de Dilma. Um comentário muito pertinente que surge frequentemente nas espinhosas discussões que ocorrem Brasil afora se refere às fichas desses deputados e senadores. Afinal, uma boa parte daqueles que estão acusando Dilma de atentar contra a constituição é investigada na operação Lava Jato. Isso, não apenas expõe a desagradável situação na qual se encontra nosso país, mas também levanta a seguinte questão: que moral teriam estes investigados, suspeitos de diversos crimes, de julgar o impeachment da presidente?
A Parashá dessa semana é repleta de Mitsvot e ensinamentos, e há muito sobre o que falar. Vamos, porém, focar em uma lição que não está totalmente explicita, mas de suma importância. Diz a Torá: “você deve advertir o seu companheiro” (Kedoshim 19,17). O objetivo desse passuk é ensinar a Mitsvá de “tochachá”, que diz que cada integrante do povo judeu é responsável pelo próximo, e, portanto, deve alertar o companheiro caso o veja fazendo algo errado.
Após mais de um ano se inteirando com os Divrei Torá semanais, já pudemos aprender algumas maneiras de se analisar um passuk da Torá. Dentre as mesmas, uma das mais comuns é a analise de palavras duplicadas, que, a principio não precisariam estar escritas para transmitir a ideia do versículo. Ao analisarmos o passuk relatado acima, veremos que a palavra “advertir” está escrita duas vezes. Em sua primeira instância, ela está conjugada no imperativo. E na segunda vez, no futuro. Obviamente, se o objetivo fosse apenas relatar que um judeu deve advertir o outro caso o veja fazendo algo errado, a Torá não precisaria ter escrito duas vezes a mesma palavra. E alem disso, por que essa diferença na conjugação?
O passuk está escrito dessa forma para passar uma importante mensagem, intrínseca no mandamento principal que estava sendo relatado. Devemos sempre aprender (ou relembrar, para aqueles que já sabem), que não é qualquer um que pode advertir o seu companheiro. Para que isso seja feito, é preciso que a pessoa tenha moral suficiente a ponto de que seja ouvida. Não adianta nada alguém chegar criticando um colega, lhe dizendo como agir, se o próprio autor da critica não age da forma correta. Por isso o passuk diz primeiramente, no imperativo: “advirta”! A quem? A si próprio. Antes de ir mexer com a vida do outro, veja se você tem moral, faz as coisas corretamente. Aí vem a segunda etapa, “você advertirá” o seu companheiro.

É muito fácil comentar sobre algo de errado que o outro está fazendo. Inclusive, isso geralmente traz um sentimento de satisfação, pois você se sente superior a ele. Porém, como diz o passuk, devemos primeiramente olhar para a nossa própria situação e corrigirmos os nossos próprios atos, para depois olharmos pros lados. No caso do impeachment no Brasil, seria impossível corrigir os atos de todos os deputados e senadores, investiga-los e julga-los, antes de realizar o impeachment. É muita gente, e a situação é urgente. Portanto, não há o que fazer. Estes políticos são os que lá estão e o impeachment precisava acontecer, sendo eles limpos ou não. Porém, nas vidas de cada um de nós, essa lição pode muito bem ser aplicada.

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