Primeiramente,
iniciaremos com uma pergunta relacionada à famosa Mitsvá do Shemá, que deve ser
recitado duas vezes ao dia, de manhã e de noite. Sobre o horário noturno no
qual o Shemá deve ser lido, a Mishna em Brachot explica que este se inicia a
partir do momento que os Kohanim entravam no Beit Hamikdash para comer a Trumá,
um alimento sagrado que era doado a eles. A Mishna relatou esse episodio para nos
mostrar um exemplo, que a partir desse momento já é considerado noite, e portanto
já se pode recitar o Shemá. Por que, porém, a Mishna não deu um exemplo mais
simples? Para passar uma ideia de horário, por que não dizer algo relacionado
ao por do sol, ou às estrelas. Qual a relação entre a Trumá e o Shemá?
Para
responder essa pergunta, vamos usar um conceito do qual o judaísmo gosta
bastante. A resposta para essa pergunta se encontra em outra pergunta. Temos de
recitar o shemá de manhã e de noite. Por que isso? Uma vez por dia não seria
suficiente? Explica o rabino Avrohom Bornsztain (1838-1910, Polônia) em seu
livro Iglei Tal que a noite é considerada um período novo no calendário judaico.
Nossos dias começam de noite, portanto, quando a noite chega, é o inicio de uma
nova etapa. Por isso, o Shemá deve ser recitado novamente. E de manhã, quando
acordamos, falamos de novo, antes de iniciarmos a nossa jornada.
Na
nossa Parashá encontramos o conceito de purificação dos Kohanim. Quando algum
Kohen ficava impuro (isso poderia acontecer por diversos motivos, como por
exemplo tocar em uma pessoa ou animal morto), este deveria mergulhar no mikve
para se purificar novamente, e assim voltar a ficar apto para ingerir alimentos
sagrados. Porém, só isso não era suficiente. Diz o passuk em nossa Parashá
sobre a purificacao do Kohen: “e o sol se porá, e (o Kohen) se purificará, e
depois disso ele comerá os alimentos sagrados” (Emor 22,7). Por mais que o
Kohen já tinha feito tudo o que estava ao seu alcance para se purificar, ele
deveria aguardar até o anoitecer. A lógica disso, segundo o Iglei Tal, era que um
novo período deveria entrar para separar o Kohen de sua impureza. Por isso era necessário
aguardar o anoitecer.
Agora
podemos entender porque a Mishná citou a refeição dos Kohanim. A partir de qual
momento pode se recitar o Shemá? Ou seja, quando é considerado que entrou o
novo dia, um novo momento, que demanda a repetição do Shemá? Responde a Mishna:
no momento em que aquele Kohen que estava impuro ficava apto para comer a sua refeição
sagrada. Pois aí sim, se o Kohen ficou puro novamente, temos a certeza de que a
noite chegou e se iniciou um novo período, trazendo consigo a necessidade de se
recitar o Shemá novamente.
Recitamos
o shemá duas vezes diariamente para recebermos sobre nós o julgo divino. Nos
lembrarmos que devemos seguir certas leis e costumes em nosso dia a dia.
Aprendemos daqui uma grande lição. Quando o anoitecer da inicio a um novo dia,
temos de repetir o Shemá. Assim também, sempre que um novo período se iniciar,
quando houver alguma alteração em seu cotidiano, caso a sua vida sofra uma mudança,
é necessário parar para pensar sobre qual é o papel do judaísmo nesse novo
estilo de vida. Lembre-se da tradição judaica, e a coloque em sua vida, neste
novo período que está começando. Não importa a situação na qual se encontre, nunca se esqueça do povo ao qual você pertence.
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