quinta-feira, 19 de maio de 2016

Emor - Novos Ares, Antigas Tradições


                              

Primeiramente, iniciaremos com uma pergunta relacionada à famosa Mitsvá do Shemá, que deve ser recitado duas vezes ao dia, de manhã e de noite. Sobre o horário noturno no qual o Shemá deve ser lido, a Mishna em Brachot explica que este se inicia a partir do momento que os Kohanim entravam no Beit Hamikdash para comer a Trumá, um alimento sagrado que era doado a eles. A Mishna relatou esse episodio para nos mostrar um exemplo, que a partir desse momento já é considerado noite, e portanto já se pode recitar o Shemá. Por que, porém, a Mishna não deu um exemplo mais simples? Para passar uma ideia de horário, por que não dizer algo relacionado ao por do sol, ou às estrelas. Qual a relação entre a Trumá e o Shemá?
Para responder essa pergunta, vamos usar um conceito do qual o judaísmo gosta bastante. A resposta para essa pergunta se encontra em outra pergunta. Temos de recitar o shemá de manhã e de noite. Por que isso? Uma vez por dia não seria suficiente? Explica o rabino Avrohom Bornsztain (1838-1910, Polônia) em seu livro Iglei Tal que a noite é considerada um período novo no calendário judaico. Nossos dias começam de noite, portanto, quando a noite chega, é o inicio de uma nova etapa. Por isso, o Shemá deve ser recitado novamente. E de manhã, quando acordamos, falamos de novo, antes de iniciarmos a nossa jornada.
Na nossa Parashá encontramos o conceito de purificação dos Kohanim. Quando algum Kohen ficava impuro (isso poderia acontecer por diversos motivos, como por exemplo tocar em uma pessoa ou animal morto), este deveria mergulhar no mikve para se purificar novamente, e assim voltar a ficar apto para ingerir alimentos sagrados. Porém, só isso não era suficiente. Diz o passuk em nossa Parashá sobre a purificacao do Kohen: “e o sol se porá, e (o Kohen) se purificará, e depois disso ele comerá os alimentos sagrados” (Emor 22,7). Por mais que o Kohen já tinha feito tudo o que estava ao seu alcance para se purificar, ele deveria aguardar até o anoitecer. A lógica disso, segundo o Iglei Tal, era que um novo período deveria entrar para separar o Kohen de sua impureza. Por isso era necessário aguardar o anoitecer.
Agora podemos entender porque a Mishná citou a refeição dos Kohanim. A partir de qual momento pode se recitar o Shemá? Ou seja, quando é considerado que entrou o novo dia, um novo momento, que demanda a repetição do Shemá? Responde a Mishna: no momento em que aquele Kohen que estava impuro ficava apto para comer a sua refeição sagrada. Pois aí sim, se o Kohen ficou puro novamente, temos a certeza de que a noite chegou e se iniciou um novo período, trazendo consigo a necessidade de se recitar o Shemá novamente.

Recitamos o shemá duas vezes diariamente para recebermos sobre nós o julgo divino. Nos lembrarmos que devemos seguir certas leis e costumes em nosso dia a dia. Aprendemos daqui uma grande lição. Quando o anoitecer da inicio a um novo dia, temos de repetir o Shemá. Assim também, sempre que um novo período se iniciar, quando houver alguma alteração em seu cotidiano, caso a sua vida sofra uma mudança, é necessário parar para pensar sobre qual é o papel do judaísmo nesse novo estilo de vida. Lembre-se da tradição judaica, e a coloque em sua vida, neste novo período que está começando. Não importa a situação na qual se encontre, nunca se esqueça do povo ao qual você pertence.

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