Na
Parashá dessa semana encontramos o famoso caso de tsaraat, uma doença similar à
lepra que atingia a pele, as roupas, ou as casas das pessoas. Alguns detalhes
técnicos: caso uma pessoa percebesse manchas leprosas, sinais de tsaraat, esta deveria se apresentar
ao Kohen, que diria se realmente é uma tsaraat ou não. Caso o teste desse
positivo, a pessoa deveria ficar isolada até a mancha começar a enfraquecer.
Quando isso acontecia, o Kohen era chamado, e anunciaria, após analisar o
enfermo, que este estava “tahor”, puro novamente. Além do Kohen verificar se a
mancha estava se extinguindo, era necessário que o mesmo anunciasse de alto e
bom tom que a pessoa estava pura. Por que essa declaração era estritamente necessária?
A
resposta está baseada no motivo pelo qual uma pessoa contraía tsaraat, e o que
significava a sua purificação. Dizem nossos sábios na Gemará que tsaraat vinha
principalmente em resposta a uma averá cometida pela pessoa, um pecado bem
conhecido: lashon hará, falar mal do próximo.
Disse
o rei Shlomo, no livro de Mishlei (18,21) que “a vida e a morte estão no poder da língua”. Através da fala, é possível produzir bastante, ensinar, transmitir
ideias, dar ordens, perguntar, responder... Porém, as palavras também são capazes
de causar muitos estragos. Tudo depende do conteúdo.
Além
das consequências da fala no mundo material em que vivemos, esta possuí uma
grande força nos mundos espirituais. Explicam os livros da Kabalá que cada
frase positiva que sai de nossas bocas cria anjos bons lá em cima. E o oposto
ocorre com frases negativas. Sendo assim, uma pessoa que falava lashon hará, ao
mencionar coisas ruins sobre alguém, era responsável por causar um certo
estrago nos mundos espirituais, e, portanto, era infectado com tsaraat. E para a doença
passar, eram necessárias duas etapas.
Primeiramente,
a própria pessoa deveria repensar os seus atos, se desculpar, se arrepender e
tomar boas decisões para o futuro. Porém, apenas isso não era suficiente para
consertar o estrago espiritual que foi causado.
A
segunda etapa era justamente a fala de um Kohen. Quando o Kohen anunciava que a
pessoa estava “pura novamente”, essas suas palavras recriavam a santidade que havia
se extinguido como resultado da má fala da pessoa. E só então os efeitos do
pecado de lashon hará eram totalmente extinguidos. Por isso o Kohen precisava
especificamente dar o anuncio de que a pessoa estava apta para retomar as suas
atividades diárias.
Nossa
fala é incrivelmente poderosa. O problema é que falar é uma das ações mais fáceis
de se praticar, não demanda nenhum esforço da maioria das pessoas. Sendo assim,
é muito comum que “escape” alguma coisa indesejada. E essa escapada pode causar
grandes prejuízos. Temos de viver conscientes disso, alinhar a boca ao cérebro,
e sempre pensar antes de dizer alguma coisa.
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