A
Parashá dessa semana é repleta de ensinamentos e Mitsvot. Uma dessas, a
principio é bem estranha. Diz a Torá que quando alguém não quiser mais comer
algum pedaço de carne, não deve joga-lo fora, e sim dar para os cachorros. Qual
o motivo desta peculiar Mitsvá? Rashi nos explica que este mandamento vem nos
ensinar uma lição que Hashem nunca deixa de recompensar nenhum ser, seja
humano, seja animal. No Egito, durante a praga da morte dos primogênitos, os
cachorros não latiram, ficaram em silencio em respeito à Am Israel, e por isso
devem ser recompensados.
É
uma lição muito bonita, mas ainda é preciso entender por que premiar
especificamente os cães? Existem outras criaturas que também agiram conforme a
vontade de Hashem, mas que não receberam nenhuma atenção especial! Por exemplo,
três das pragas no Egito envolveram a participação ativa de animais. Os sapos,
que infestaram as casas dos egípcios, os animais ferozes que os atacaram, e os
gafanhotos que comeram suas colheitas. Por que então essa ênfase maior nos
cachorros, a ponto de existir uma Mitsvá especifica que os presenteia?
A
resposta se encontra numa diferença clara entre os comportamentos de cada um
desses seres. É verdade que todos realizaram o desejo de Hashem. Porém, um sapo
se espalhar e infestar casas, animais ferozes atacarem pessoas ou construções e
gafanhotos comerem colheitas, são comportamentos completamente esperados destes
seres. Eles agiram conforme suas devidas naturezas, como estavam acostumados. É
louvável, porém não chega ao nível dos cães. Estes, ao não latir no meio da
noite, sob a presença de mortes e mais mortes de pessoas (que poderiam ser
inclusive seus donos), agiram completamente contra sua natureza. O normal
naquela hora seria os cachorros começarem a latir. Porém, estes se controlaram
e fizeram um autossacrifício pois este era o certo a fazer naquele momento. Em
reconhecimento a esse esforço quase sobrenatural, foram presenteados com as
sobras de carne das refeições judaicas.
Essa
comparação entre os animais deve ser enxergada como uma parábola para nossas
vidas. Muitas vezes, nos gabamos de fazer o certo, agir conforme é esperado de
nós, e esperamos reconhecimento por isso. Obviamente, agir corretamente é algo louvável.
Porém, não é o suficiente. O verdadeiro desafio se encontra naquelas situações onde
o certo a fazer se opõe à natureza e à personalidade de cada um. Controlar os
nervos, esfriar o estresse, segurar o impulso, sanar a vontade de fazer alguma
coisa. Muitas vezes sabemos qual é o certo a ser feito, porém também temos consciência
de que este é extremamente difícil de ser executado, pois vai contra o nosso
temperamento. É aí que a mente deve entrar em ação e um trabalho interno deve
ser realizado. Agir corretamente pode ser fácil. O difícil, porém mais
gratificante é obter o sucesso quando este propõe um paradoxo às nossas
personalidades.
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