quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Mishpatim - Aprendendo Com Os Cães

A Parashá dessa semana é repleta de ensinamentos e Mitsvot. Uma dessas, a principio é bem estranha. Diz a Torá que quando alguém não quiser mais comer algum pedaço de carne, não deve joga-lo fora, e sim dar para os cachorros. Qual o motivo desta peculiar Mitsvá? Rashi nos explica que este mandamento vem nos ensinar uma lição que Hashem nunca deixa de recompensar nenhum ser, seja humano, seja animal. No Egito, durante a praga da morte dos primogênitos, os cachorros não latiram, ficaram em silencio em respeito à Am Israel, e por isso devem ser recompensados.
É uma lição muito bonita, mas ainda é preciso entender por que premiar especificamente os cães? Existem outras criaturas que também agiram conforme a vontade de Hashem, mas que não receberam nenhuma atenção especial! Por exemplo, três das pragas no Egito envolveram a participação ativa de animais. Os sapos, que infestaram as casas dos egípcios, os animais ferozes que os atacaram, e os gafanhotos que comeram suas colheitas. Por que então essa ênfase maior nos cachorros, a ponto de existir uma Mitsvá especifica que os presenteia?
A resposta se encontra numa diferença clara entre os comportamentos de cada um desses seres. É verdade que todos realizaram o desejo de Hashem. Porém, um sapo se espalhar e infestar casas, animais ferozes atacarem pessoas ou construções e gafanhotos comerem colheitas, são comportamentos completamente esperados destes seres. Eles agiram conforme suas devidas naturezas, como estavam acostumados. É louvável, porém não chega ao nível dos cães. Estes, ao não latir no meio da noite, sob a presença de mortes e mais mortes de pessoas (que poderiam ser inclusive seus donos), agiram completamente contra sua natureza. O normal naquela hora seria os cachorros começarem a latir. Porém, estes se controlaram e fizeram um autossacrifício pois este era o certo a fazer naquele momento. Em reconhecimento a esse esforço quase sobrenatural, foram presenteados com as sobras de carne das refeições judaicas.

Essa comparação entre os animais deve ser enxergada como uma parábola para nossas vidas. Muitas vezes, nos gabamos de fazer o certo, agir conforme é esperado de nós, e esperamos reconhecimento por isso. Obviamente, agir corretamente é algo louvável. Porém, não é o suficiente. O verdadeiro desafio se encontra naquelas situações onde o certo a fazer se opõe à natureza e à personalidade de cada um. Controlar os nervos, esfriar o estresse, segurar o impulso, sanar a vontade de fazer alguma coisa. Muitas vezes sabemos qual é o certo a ser feito, porém também temos consciência de que este é extremamente difícil de ser executado, pois vai contra o nosso temperamento. É aí que a mente deve entrar em ação e um trabalho interno deve ser realizado. Agir corretamente pode ser fácil. O difícil, porém mais gratificante é obter o sucesso quando este propõe um paradoxo às nossas personalidades.

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