quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Noach - Seja Você Mesmo

No primeiro passuk de nossa Parashá, a Torá descreve quem era Noach: “um homem tsadik e tamim (justo e íntegro) em suas gerações”. Depois da descrição do cenário no qual Noach estava vivendo, a Torá nos relata que Hashem lhe ordenou construir a arca a fim dele se salvar do dilúvio, e quando tudo estava pronto chegou a hora de entrar na tevá. Hashem disse para Noach: “entre você e toda sua casa na tevá, pois eu vi que você é um tsadik perante mim nessa geração”. Ao comparar essa fala de Hashem com o passuk introdutório da Parashá, percebe-se uma grande diferença. Quando a Torá descreve Noach, são utilizados dois adjetivos: tsadik e tamim. Porém, quando Hashem fala com ele, apenas a palavra “tsadik” é mencionada. Partindo do pressuposto que Noach não alterou a sua conduta durante sua vida, por qual motivo Hashem tirou um dos adjetivos em sua definição?
Rashi percebe essa diferença, e traz um ensinamento que nossos sábios aprendem desses psukim. Quando é para elogiar alguém e ele não está escutando, deve-se usar todas as palavras que ele merece, não se deve economizar, obviamente mantendo-se dentro da realidade. Porém, ao falar diretamente com a pessoa, não é bom bajulá-lo tanto. Deve-se poupar alguns adjetivos, para que ele mantenha os pés no chão, não se iluda e não empine o nariz. Por isso, quando a Torá escreve em geral sobre Noach, usa os dois adjetivos que lhe definem, porém quando Hashem dialoga diretamente com ele, oculta um deles.
Esse é um bonito aprendizado, porém há uma explicação mais lógica para essa mudança nos psukim, que faz muito sentido se analisarmos o contexto de cada passuk. Noach viveu em duas gerações diferentes. Primeiramente, ele conviveu com pessoas que pecavam em suas condutas, tinham um péssimo comportamento. Roubavam, eram promíscuos; uma loucura. Exatamente o oposto disso é o tsadik, aquele que dominou sua má inclinação e se comporta de maneira perfeita. Porém, essa geração foi apagada com o mabul, só sobrando Noach e seus filhos, que após o dilúvio originaram uma nova geração, conhecida por um famoso pecado: a torre de Bavel. Essa segunda geração com a qual Noach conviveu no fim de sua vida pecou no conceito de emuná (fé), ao pensar que poderia subir até o céu e enfrentar Hashem física e diretamente. Uma pessoa que se comporta de maneira contrária a isso, que possui fé e está ao par de que há um D’us onipresente, é chamada de tamim.
Por isso a Torá, quando introduz quem era Noach, fala sobre ele de maneira geral, inclui os dois adjetivos, tsadik e tamim, que são justamente antagônicos à conduta de seus conterrâneos em toda sua vida. Isso fica claro com o uso da palavra “gerações”, no plural. Ou seja, Noach era um tsadik e um tamim em relação às duas gerações nas quais viveu. Mas depois, quando Hashem fala com Noach, Ele quis mostrar por qual mérito Noach iria se salvar do dilúvio: “pois eu vi que você é um tsadik perante mim nessa geração”, ou seja, em relação às pessoas da época do mabul. Esse é o foco do momento. Por isso a palavra “tamim” não foi usada, uma vez que ela não cabe naquela hora.

Devemos tirar de Noach a força de nadar contra a maré. Quando todos em sua geração pecavam e seguiam o mal caminho, o mais fácil seria acompanhá-los. Porém, Noach escolheu o caminho complicado, mas correto. Decidiu ser o diferente e inclusive acabou sendo zombado pelas outras pessoas. Ser tsadik e tamim já é bem complicado, mais ainda no meio de tanta crueldade. Em nosso dia a dia, frequentemente nos deparamos com situações onde no meio de tanta gente somos os únicos a se comportar de tal maneira. Justamente quando o mais fácil seria se deixar levar pela correnteza, é preciso ser forte e nadar contra.  É difícil, mas está longe de ser impossível.

2 comentários:

  1. Obrigada! Excelente reflexão, extremamente benvinda! Shabat Shalom!

    ResponderExcluir
  2. Pode ser difícil, mas como é bom e reconfortante saber q se faz o certo, mesmo sendo sempre apontado como o errado, zombado e humilhado... Não se é diferente por se fazer o certo... É ter a consciência de q é o certo. Eles têm o ditado: "Em Roma faça como os romanos!" Só um louco, um pervertido, assim o faz, sobretudo vendo q fazem o errado e ainda assim segue o mesmo caminho... Fazer o certo é ser livre...

    ResponderExcluir