No
primeiro passuk de nossa Parashá, a Torá descreve quem era Noach: “um homem tsadik e tamim (justo e íntegro) em suas gerações”. Depois da descrição do
cenário no qual Noach estava vivendo, a Torá nos relata que Hashem lhe ordenou
construir a arca a fim dele se salvar do dilúvio, e quando tudo estava pronto
chegou a hora de entrar na tevá. Hashem disse para Noach: “entre você e toda
sua casa na tevá, pois eu vi que você é um tsadik
perante mim nessa geração”. Ao comparar essa fala de Hashem com o passuk
introdutório da Parashá, percebe-se uma grande diferença. Quando a Torá
descreve Noach, são utilizados dois adjetivos: tsadik e tamim. Porém, quando
Hashem fala com ele, apenas a palavra “tsadik” é mencionada. Partindo do
pressuposto que Noach não alterou a sua conduta durante sua vida, por qual
motivo Hashem tirou um dos adjetivos em sua definição?
Rashi
percebe essa diferença, e traz um ensinamento que nossos sábios aprendem desses
psukim. Quando é para elogiar alguém e ele não está escutando, deve-se usar
todas as palavras que ele merece, não se deve economizar, obviamente
mantendo-se dentro da realidade. Porém, ao falar diretamente com a pessoa, não
é bom bajulá-lo tanto. Deve-se poupar alguns adjetivos, para que ele mantenha
os pés no chão, não se iluda e não empine o nariz. Por isso, quando a Torá escreve
em geral sobre Noach, usa os dois adjetivos que lhe definem, porém quando
Hashem dialoga diretamente com ele, oculta um deles.
Esse
é um bonito aprendizado, porém há uma explicação mais lógica para essa mudança
nos psukim, que faz muito sentido se analisarmos o contexto de cada passuk.
Noach viveu em duas gerações diferentes. Primeiramente, ele conviveu com
pessoas que pecavam em suas condutas, tinham um péssimo comportamento.
Roubavam, eram promíscuos; uma loucura. Exatamente o oposto disso é o tsadik,
aquele que dominou sua má inclinação e se comporta de maneira perfeita. Porém,
essa geração foi apagada com o mabul, só sobrando Noach e seus filhos, que após
o dilúvio originaram uma nova geração, conhecida por um famoso pecado: a torre
de Bavel. Essa segunda geração com a qual Noach conviveu no fim de sua vida
pecou no conceito de emuná (fé), ao pensar que poderia subir até o céu e
enfrentar Hashem física e diretamente. Uma pessoa que se comporta de maneira
contrária a isso, que possui fé e está ao par de que há um D’us onipresente, é
chamada de tamim.
Por
isso a Torá, quando introduz quem era Noach, fala sobre ele de maneira geral, inclui
os dois adjetivos, tsadik e tamim, que são justamente antagônicos à conduta de
seus conterrâneos em toda sua vida. Isso fica claro com o uso da palavra
“gerações”, no plural. Ou seja, Noach era um tsadik e um tamim em relação às
duas gerações nas quais viveu. Mas depois, quando Hashem fala com Noach, Ele
quis mostrar por qual mérito Noach iria se salvar do dilúvio: “pois eu vi que
você é um tsadik perante mim nessa
geração”, ou seja, em relação às pessoas da época do mabul. Esse é o foco do
momento. Por isso a palavra “tamim” não foi usada, uma vez que ela não cabe
naquela hora.
Devemos
tirar de Noach a força de nadar contra a maré. Quando todos em sua geração pecavam
e seguiam o mal caminho, o mais fácil seria acompanhá-los. Porém, Noach
escolheu o caminho complicado, mas correto. Decidiu ser o diferente e inclusive
acabou sendo zombado pelas outras pessoas. Ser tsadik e tamim já é bem
complicado, mais ainda no meio de tanta crueldade. Em nosso dia a dia,
frequentemente nos deparamos com situações onde no meio de tanta gente somos os
únicos a se comportar de tal maneira. Justamente quando o mais fácil seria se deixar
levar pela correnteza, é preciso ser forte e nadar contra. É difícil, mas está longe de ser impossível.
Obrigada! Excelente reflexão, extremamente benvinda! Shabat Shalom!
ResponderExcluirPode ser difícil, mas como é bom e reconfortante saber q se faz o certo, mesmo sendo sempre apontado como o errado, zombado e humilhado... Não se é diferente por se fazer o certo... É ter a consciência de q é o certo. Eles têm o ditado: "Em Roma faça como os romanos!" Só um louco, um pervertido, assim o faz, sobretudo vendo q fazem o errado e ainda assim segue o mesmo caminho... Fazer o certo é ser livre...
ResponderExcluir