Esse
shabat iniciamos um novo ciclo da Torá. Parece que foi ontem que estávamos começando
o livro de Bereshit no ano passado, mas as semanas vão avançando, uma parashá
atrás da outra, e já chegamos num novo começo. Parashat Bereshit cobre um
grande período, desde a criação do mundo até o nascimento de Noach, passando
por muitas narrativas distintas, portanto, há muito o que analisar.
Qual
foi o primeiro pecado do mundo? Muitos pensam que foi Adam, ao comer da fruta
proibida. Porém, houve uma outra criação que pecou antes dele: as árvores. No
terceiro dia da criação, Hashem criou as plantas, árvores e frutas. Sobre isso,
há um famoso Midrash que diz: Hashem ordenou que as árvores tivessem o mesmo
gosto das frutas. A princípio, as árvores deveriam possuir a característica de
seu tronco ou caule ter o mesmo gosto de suas frutas. Porém, as árvores pecaram,
não cumpriram essa ordem, e seus caules e troncos foram criados com gostos
diferentes das frutas, como ocorre hoje em dia. Essa constatação pode ser observada
nas palavras dos psukim. A conclusão do Midrash é que por esse motivo as plantas
e árvores foram punidas junto com Adam, após este e sua esposa comerem do fruto
proibido, quando Hashem decretou que seria mais difícil de plantá-las e cultiva-las,
devido às pragas.
Muitos
comentaristas perguntam por que essa punição não ocorreu logo após o pecado das
árvores? Por qual motivo elas tiveram que ser punidas justamente junto com
Adam, alguns dias depois?
Na
verdade, Hashem tinha um outro interesse, em manter as árvores e plantas da
maneira como estavam. Quando Chava pecou, e comeu da fruta proibida no Gan
Eden, está escrito no passuk que ela “viu que a árvore (proibida) era boa para
comer, e pegou de sua fruta, e comeu”. Por que o passuk precisa nos dizer que a
árvore parecia gostosa? Não deveria ser o fruto? A resposta é que o passuk está
nos contando o que se passava na cabeça de Chava naquela hora. Ela pensou: “se
Hashem disse para não comermos essa fruta pois ela nos fará mal, então sua
árvore também deveria ser ruim. Pois os frutos devem seguir suas árvores. Mas
essa árvore possui uma aparência tão boa! Então deve ser que sua fruta também o
é.”
Apesar
das árvores merecerem uma punição já na hora que elas não cumpriram a vontade
de Hashem Ele quis deixar dessa maneira, as árvores com gostos e aparências diferentes
do que os frutos, para ver se Chava iria passar no teste. A cobra a tentou
convencer de que o fruto era bom. Se Chava passasse no teste, ela poderia ter evitado
a punição das árvores, engrandecendo-as com a sua boa ação, ao optar por fazer
o bem e não comer a fruta. Porém, a partir do momento que ela pecou, e
justamente o fato da árvore possuir uma característica diferente do fruto ter colaborado
com esse pecado, aí sim Hashem decidiu que estava na hora de punir as árvores. No
teste de Chava havia a possibilidade de evitar a punição de uma outra criação de
Hashem. Porém, ao falhar, ela decretou não apenas o seu próprio castigo, mas também
o de um outro ser.
Às
vezes, uma pessoa é responsável por outros, suas ações podem influenciar outras
pessoas. Não apenas negativamente, mas também de uma maneira positiva. O estudo
de Torá, as boas ações e a reza de pessoas aqui no Brasil, por exemplo, podem
estar contribuindo com méritos para salvar a vida de soldados de cidadãos israelenses
que no momento enfrentam uma grande quantidade de ataques terroristas
palestinos. Nunca vamos saber a verdade, e até onde chegaram as consequências de
nossos atos. Apesar disso, precisamos tentar fazer a nossa parte.
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