quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Lech Lechá - O Segredo Por Trás Dos Presentes


Nosso patriarca Avraham Avinu ficou conhecido por passar em vários testes que Hashem lhe propôs durante sua vida, e muitos destes acontecem em nossa Parashá. Logo após chegar em Israel, após seguir a ordem de Hashem para deixar a casa de seu pai, Avraham foi surpreendido por uma forte seca, que consequentemente trouxe fome, e acabou sendo obrigado a descer em direção ao Egito. Assim que se aproximou dos portões da cidade, Avraham disse para Sara não comentar que era sua esposa, e sim sua irmã, e ele deu dois motivos para isso: primeiramente, para não o matarem a fim do Faraó ficar com ela. Segundo, disse Avraham: “Para que me façam bem por sua causa”. Que bem é esse?
Rashi, que geralmente tem a função de nos ajudar a entender melhor o passuk, e oferecer interpretações que dão sentido ao texto da Torá, nesse local parece nos complicar bastante. Explica ele, que o bem que Avraham esperava que lhe fizessem por causa de Sara era que lhe dessem presentes, ou seja, dinheiro e posses. Praticamente todos os comentaristas perguntam a Rashi que esses presentes estão fora de contexto. Avraham se encontrava na fila de imigração para uma terra desconhecida, um império promiscuo, com medo de que lhe matassem e o Faraó pegasse sua esposa. Como nesse momento ele poderia estar pensando em presentes?! Quando alguém se encontra ameaçado, sob perigo de vida, a única coisa com a qual ele deveria se preocupar é em se safar, sair vivo dali! Por que então Avraham estava preocupado em levar um brinde dos Faraó e de seu povo?
A vastidão da Torá, seu grande número de comentaristas e estudiosos, proporcionam infinitas respostas para essa pergunta, porém encontrei uma explicação muito bonita do livro Shem Mishmuel, escrito pelo rabino chassídico R Shmuel Borenstein (1855-1910, Polonia). Diz o Midrash que não foi à toa essa ida de Avraham ao Egito. Não era apenas um teste, como estamos acostumados. O verdadeiro motivo pelo qual ele foi para lá era para “preparar o terreno” pra Am Israel, que ali viveria por muitos anos, desde Yaakov e sua família até o Faraó liberar o povo após as dez pragas e muitos anos de escravidão. E Avraham sabia disso. Portanto, tudo o que ocorreu com Avraham no Egito foi espelhado posteriormente aos seus descendentes, e foi de seu primeiro patriarca que eles tiraram a força para sobreviver, lutar, e sair de cabeça erguida.
Realmente, houveram muitas semelhanças entre a estadia de Avraham e a do povo judeu no Egito. Após o Faraó tomar Sara de seu marido e a levar para os seus aposentos, um anjo de Hashem começou a lhe punir ininterruptamente, sob ordens de Sara, o que nos remete às 10 pragas que Hashem mandou ao Faraó sob intermédio de Moshe e Aharon. Logo depois, quando o rei ficou sabendo que Sara era casada com Avraham, lhes mandou embora imediatamente, com muita pressa, exatamente como ocorreu anos depois, no episódio que marca a festa de Pessach. E os presentes fazem parte disso. Houve uma promessa de que o povo sairia do Egito após a escravidão com muitas posses e dinheiro, que foram dados pelos próprios egípcios. E a energia espiritual para esse acontecimento também veio de Avraham, justamente pelo fato de que o Faraó lhe deu presentes quando lhe mandou embora, exatamente como ele havia previsto. Portanto, quando Avraham mencionou que por causa de Sara ele receberia presentes do Faraó, não foi um acaso, e muito menos um interesse próprio. Ameaçado por um império perverso, ele estava preocupado em garantir que no futuro seus filhos sairiam do Egito com muitas posses, como Hashem prometeu.
Existem outros exemplos de como Avraham se importava com cada um de seus filhos. No inicio de nossa Parashá está escrito que Avraham entrou em Israel e foi ate a cidade de Shchem. Por que ele se dirigiu especificamente até essa cidade? Explica Rashi que Avraham fez questão de ir lá para rezar pelos filhos de Yaakov que no futuro lá guerreariam contra Shchem (o governador da cidade) e seu povo. Um pouco depois, quando Avraham foi lutar contra os 4 reis a fim de resgatar seu sobrinho Lot, o passuk nos conta que no meio de sua perseguição ele parou em um local chamado Dan. Rashi explica que lá Avraham teve um momento de fraqueza, pois era o lugar no qual seus filhos praticariam a idolatria, no pecado do bezerro de ouro.
Já se passaram mais de quatro mil anos desde o falecimento de Avraham. Porém, a força de suas ações, a energia originada por sua preocupação e por seus atos milimetricamente calculados, permanece nos fortificando e nos encorajando a seguir em frente, praticando o judaísmo da melhor maneira possível. Que as pitadas de luz acendidas por nosso primeiro patriarca durante toda sua vida prevaleçam e continuem acesas em meio a tantos desafios e dificuldades que enfrentamos no século 21.


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