quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ki Tetse - Ouça Suas Próprias Palavras

O assunto do Ben Sorer Umore, o filho rebelde, presente no inicio de nossa Parashá é bem polemico. Sempre quando leio este trecho, do menino de 13 anos que deveria ser morto pelo fato de comer carne e beber vinho, me pergunto: será que isso é tão grave? A resposta padrão é que ele é julgado pelo futuro, se ele age assim nessa etapa de sua vida, não ouve os seus pais, imagine o que ele fará quando for mais velho! Essa resposta não me convence, e apesar de nunca ter havido um caso de um Ben Sorer Umore na história, eu continuo procurando uma explicação convincente. Porém, isso foi apenas uma introdução, pra levantar a curiosidade. Vamos falar sobre esse assunto, porém focaremos em uma outra questão; um detalhe, na verdade. E se alguém souber de uma boa explicação pra esse trecho, por favor me avise.
Está escrito no passuk que quando os pais vissem que seu filho era um rebelde que se enquadra nas características do Ben Sorer Umore, deveriam dizer o seguinte para as autoridades: “nosso filho é rebelde, ele não ouve a nossa voz (o que mandamos ele fazer)”. Desse trecho, aprende a Guemará no tratado de Sanhedrin (71) que se um dos pais do menino fosse surdo, o seu filho não poderia ser julgado como um Ben Sorer Umore. A Guemará aprende isso da frase que “ele não ouve a nossa voz”. A pergunta quase que nem precisa ser feita. Quem deve ouvir as instruções e melhorar a sua conduta é o filho! Ele é quem não pode ser surdo, pra poder ouvir! Por qual motivo a Guemará conclui que os pais não podiam ser surdos?
Se eu não tivesse lido isso na Guemará e alguém me dissesse essa explicação, eu com certeza diria para a pessoa que ela entendeu errado. Deve ser que você quis dizer que o filho não podia ser surdo! Mas está bem claro. Nenhum dos pais poderia ser surdo. Por que isso? Temos de encontrar um esclarecimento para o fato do pai não poder ter problemas auditivos para o filho ser culpado por seus atos delinquentes.
A explicação é que essa suposta surdez é na verdade uma alegoria. Não estamos falando aqui de um problema físico auricular, mas sim de uma questão ética. A interpretação da Guemará é a seguinte: pro filho ser julgado e condenado por seus atos rebeldes, ambos os pais não podiam ser “surdos”, ou seja deveriam ouvir e cumprir tudo o que eles mesmos dissessem ao seu filho. Antes mesmo de tentarem educar e ensinar modos à criança, os pais precisavam ter moral pra isso. Eles deveriam ouvir a própria voz, se comportar da melhor forma para que o mesmo comportamento fosse adotado pelo filho. Se eles não demostravam o exemplo, não havia como o menino ser considerado culpado. Por isso não poderiam se comportar como surdos, como se nem tivessem ouvido a própria voz.

Antes de criticar alguém, orientar uma outra pessoa, olhe pra baixo. Mire no seu umbigo. Veja se você tem moral pra isso. Dar conselhos pra alguém, falar mal dos outros é muito fácil. Difícil mesmo é possuir credibilidade para tal.

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