Bikurim. Assim começa nossa Parashá, relatando a Mitsva de
trazer as primeiras frutas que nasciam de cada uma das sete espécies de Israel,
para o Beit Hamikdash. O Sefer Hachinuch, um livro que comenta sobre as Mitsvot
da Torá, explica que o objetivo da Mitsva de bikurim é a pessoa se
conscientizar que apesar dela ter trabalhado bastante em sua terra, se
esforçado para que as frutas nascessem em suas árvores, há de ser grato a
Hashem por isso ter acontecido, pois tudo vem Dele.
Essa é a explicação famosa: doe uma parte pro Beit
Hamikdash, pra reconhecer que você não é o único responsável pelo sucesso que obtém
de seu trabalho. Porém, há uma outra explicação para essa Mitsva. A Mishna no
tratado de bikurim (que fala exatamente sobre o nosso assunto) pergunta: “como
separamos os bikurim?” Como isso era feito?” Responde a Mishna: “uma pessoa que
vai ao seu campo e vê um figo que está maduro, uma tâmara que está madura ou
uma romã que está madura, amarra um fio vermelho nessas frutas e diz que esses
serão os bikurim”. Como falamos acima, os bikurim eram trazidos de sete
espécies diferentes de frutas, com a fartura das quais a terra de Israel foi
abençoada. Por que então a Mishna só traz 3 exemplos? E por que especificamente
essas três frutas: figo, romã e tâmara?
Para responder essa pergunta, vamos voltar alguns anos na
história. No deserto, quando os espiões voltaram da terra de Israel e o povo
todo esperava ouvir informações empolgantes e boas sobre o local, este foi
impressionado pelo pessimismo que compunha o discurso de seus enviados. Eles
falaram muito mal da terra. E para provar a sua teoria trouxeram 3 frutas para
mostrar ao povo que seus tamanhos eram muito grandes, fazendo uma alusão ao
fato de haver gigantes morando em Israel, o que tornaria a conquista muito
difícil, na visão deles. Quais frutas eles trouxeram? Exatamente essas
descritas na Mishna: figo, romã e tâmara!
Na verdade, a logica é contrária. A Mishna é que fez
questão de escrever especificamente as frutas que os espiões haviam trazido,
para exemplificar como se separava os bikurim, apesar de haver outras 4
espécies no pacote. Nossos sábios querem nos ensinar uma profunda lição que
podemos aprender da Mitsva de bikurim. Deve-se de agir de uma maneira
diametralmente oposta à forma como agiram os espiões. Pegava-se essas mesmas
frutas que eles trouxeram, e ao invés de falar mal da terra de Israel, fazia-se
o contrário. O texto que era dito no Beit Hamikdash quando se trazia os bikurim
inclui muitas menções à Erets Israel, falando como a terra é boal; a terra de
leite e mel; a terra prometida. Temos então outra razão pela qual se trazia
bikurim. Para reconhecer as coisas boas da terra de Israel, os milagres de
Hashem, que fazem crescer deliciosas frutas em um local árido, com um sério
problema de falta de água.
Essa mensagem nos foi passada há vários séculos. Mas ela
nunca foi tão atual quando hoje em dia. Israel está cercado por seus piores
inimigos, possui secas seríssimas, em sua área não há petróleo (ao contrario de
grande parte do Oriente Médio), e mesmo assim, conseguiu se desenvolver, se
democratizar, se tornar o país com o maior numero de empresas na bolsa
americana de tecnologia (NASDAQ), entre muitas outras conquistas. Tudo isso em
menos de 70 anos. O que na antiguidade era representado pelas frutas, hoje em
dia pode ser medido pelo IDH, pelo desenvolvimento socioeconômico e pelas
grandes invenções tecnológicas que diariamente ali se originam. Atualmente não
se amarra mais um fio vermelho, afinal infelizmente não temos o Beit Hamikdash.
Porém, o mesmo reconhecimento, assim como o sentimento de gratidão Àquele que
nos proporciona tudo isso devem estar presentes nas maiores proporções
possíveis. Não é à toa que Israel é conhecido como “Start Up Nation”. Acima
desse nanico país, existe alguém mantendo os olhos constantemente abertos,
vigiando e cuidando para que tudo ocorra da melhor maneira possível.
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