Nossa Parashá dá início às palavras que Moshe dirigiu ao
povo antes de falecer, as quais se prolongam até a última Parashá da Torá.
Muitas coisas nos chamam a atenção nesse discurso, porém é interessante o fato
de que mais de uma vez Moshe mostrou ao povo, mesmo que não diretamente, a
importância da união e de uma vida em paz.
Primeiramente, Moshe estava dizendo que ele teve que
apontar pessoas que lhe ajudassem a liderar o povo, pois eles eram “muitos, numerosos
como as estrelas do céu”. Sabemos que Am Israel, quando se trata de sua
numerosidade, frequentemente é comparado com os grãos da areia, como Hashem
disse para Avraham, que o seu povo seria tão numeroso como “o pó da terra”, e
às vezes é comparado com as estrelas. Se Moshe quisesse aqui simplesmente dizer
que o povo era muito numeroso, e portanto seria difícil dele cuidar de todos
sozinho, ele não precisaria especificamente fazer essa comparação com as
estrelas. A explicação para ele ter feito isso se dá pelo fato de existir uma
grande diferença entre as estrelas e os grãos de areia. Quando observamos uma
praia, nem reparamos, pois é muito óbvio, mas os grãos da areia estão sempre
juntos um ao outro. Cada parte do solo onde pisamos é composta por milhares de
grãos, que juntos formam uma superfície sólida. As estrelas, por outro lado,
são bem separadas. Há uma grande distancia entre elas e cada uma brilha por si só.
Moshe estava dizendo que o principal obstáculo imposto à sua liderança não era
o fato do povo ser numeroso, mas sim a desunião que caracterizava Am Israel.
Avançando um pouquinho na Parashá, Moshe abençoa o povo
dizendo que Hashem “aumente seu número mil vezes, e lhes abençoe como Ele
disse”. Para entendermos melhor o significado dessa frase, vejamos o que Rashi tem a dizer: quando Moshe
disse que o povo seria multiplicado “mil vezes”, as pessoas reclamaram com ele
dizendo que ele colocou um limite na benção de Hashem! A brachá que Hashem deu
a Avraham dizia que da mesma maneira como os grãos não podem ser contados, ou
seja, um numero infinito, assim também vai ser com Bnei Israel, e Moshe foi lá
e colocou um limite?! Respondeu Moshe ao povo: “essa brachá, ilimitada, quem
lhes deu foi o próprio Hashem. Eu, porém, acrescento uma benção minha, extra,
que vocês sejam multiplicados mil vezes”. Se pensarmos um pouco, isso não faz
muito sentido. Se Hashem já havia prometido a Avraham um numero ilimitado, de
que adianta Moshe acrescentar uma brachá sua, que possuía uma limitação?
Diz a Guemará que Hashem só consegue dar brachot ao povo
judeu quando este está unido, em paz entre si. Portanto, aquela brachá que o
povo vai crescer e chegar à um numero ilimitado só recai quando houver união.
Como Moshe sabia que muitas vezes não é isso que acontece, ele deu uma brachá sua,
pros tempos em que não houver união, ou seja, merecimento da brachá que já
havia sido dada por Hashem. As duas bênçãos se aplicam em situações diferentes,
então, que não se interceptam e não se influenciam.
Sábado a noite temos o jejum de 9 de Av, que marca a data
na qual, além de outras coisas, foram destruídos os dois Beit Hamikdash.
Sabemos que um dos motivos pelo qual o segundo templo foi destruído foi o ódio
gratuito, Am Israel não estava em paz, havia quase uma guerra civil. Portanto,
não é a toa que essa Parashá nos transmite tão enfaticamente a importância da
união e da harmonia, denominados “achdut” em hebraico. Já existe tanta gente
querendo o nosso mal, que é obrigação haver paz entre nós mesmos. Atualmente Am
Israel é um povo com muitas facetas e uma vastidão de culturas distintas, o que pode tornar essa missão um pouco mais
difícil. Por isso a iniciativa de respeitar o outro e viver pacificamente deve
partir de cada um em particular, tornando-nos unidos como os grãos de areia.
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