quinta-feira, 23 de julho de 2015

Dvarim - A União Faz A Força

Nossa Parashá dá início às palavras que Moshe dirigiu ao povo antes de falecer, as quais se prolongam até a última Parashá da Torá. Muitas coisas nos chamam a atenção nesse discurso, porém é interessante o fato de que mais de uma vez Moshe mostrou ao povo, mesmo que não diretamente, a importância da união e de uma vida em paz.
Primeiramente, Moshe estava dizendo que ele teve que apontar pessoas que lhe ajudassem a liderar o povo, pois eles eram “muitos, numerosos como as estrelas do céu”. Sabemos que Am Israel, quando se trata de sua numerosidade, frequentemente é comparado com os grãos da areia, como Hashem disse para Avraham, que o seu povo seria tão numeroso como “o pó da terra”, e às vezes é comparado com as estrelas. Se Moshe quisesse aqui simplesmente dizer que o povo era muito numeroso, e portanto seria difícil dele cuidar de todos sozinho, ele não precisaria especificamente fazer essa comparação com as estrelas. A explicação para ele ter feito isso se dá pelo fato de existir uma grande diferença entre as estrelas e os grãos de areia. Quando observamos uma praia, nem reparamos, pois é muito óbvio, mas os grãos da areia estão sempre juntos um ao outro. Cada parte do solo onde pisamos é composta por milhares de grãos, que juntos formam uma superfície sólida. As estrelas, por outro lado, são bem separadas. Há uma grande distancia entre elas e cada uma brilha por si só. Moshe estava dizendo que o principal obstáculo imposto à sua liderança não era o fato do povo ser numeroso, mas sim a desunião que caracterizava Am Israel.
Avançando um pouquinho na Parashá, Moshe abençoa o povo dizendo que Hashem “aumente seu número mil vezes, e lhes abençoe como Ele disse”. Para entendermos melhor o significado dessa frase, vejamos o que Rashi tem a dizer: quando Moshe disse que o povo seria multiplicado “mil vezes”, as pessoas reclamaram com ele dizendo que ele colocou um limite na benção de Hashem! A brachá que Hashem deu a Avraham dizia que da mesma maneira como os grãos não podem ser contados, ou seja, um numero infinito, assim também vai ser com Bnei Israel, e Moshe foi lá e colocou um limite?! Respondeu Moshe ao povo: “essa brachá, ilimitada, quem lhes deu foi o próprio Hashem. Eu, porém, acrescento uma benção minha, extra, que vocês sejam multiplicados mil vezes”. Se pensarmos um pouco, isso não faz muito sentido. Se Hashem já havia prometido a Avraham um numero ilimitado, de que adianta Moshe acrescentar uma brachá sua, que possuía uma limitação?
Diz a Guemará que Hashem só consegue dar brachot ao povo judeu quando este está unido, em paz entre si. Portanto, aquela brachá que o povo vai crescer e chegar à um numero ilimitado só recai quando houver união. Como Moshe sabia que muitas vezes não é isso que acontece, ele deu uma brachá sua, pros tempos em que não houver união, ou seja, merecimento da brachá que já havia sido dada por Hashem. As duas bênçãos se aplicam em situações diferentes, então, que não se interceptam e não se influenciam.

Sábado a noite temos o jejum de 9 de Av, que marca a data na qual, além de outras coisas, foram destruídos os dois Beit Hamikdash. Sabemos que um dos motivos pelo qual o segundo templo foi destruído foi o ódio gratuito, Am Israel não estava em paz, havia quase uma guerra civil. Portanto, não é a toa que essa Parashá nos transmite tão enfaticamente a importância da união e da harmonia, denominados “achdut” em hebraico. Já existe tanta gente querendo o nosso mal, que é obrigação haver paz entre nós mesmos. Atualmente Am Israel é um povo com muitas facetas e uma vastidão de culturas distintas,  o que pode tornar essa missão um pouco mais difícil. Por isso a iniciativa de respeitar o outro e viver pacificamente deve partir de cada um em particular, tornando-nos unidos como os grãos de areia.

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