sexta-feira, 12 de junho de 2015

Shlach - Sabendo Lidar Com o Poder

Lendo o jornal hoje em dia, encontro cada vez mais noticias de escândalos. O governo Lula em 2006, a Petrobrás, agora a FIFA. Exemplos não faltam. Muitos são os casos de corrupção, um dos principais problemas que afetam o nosso país, e pelo que vimos há pouco, outras instituições internacionais também. Se pararmos para pensar na razão para pessoas que ocupavam altíssimos cargos terem feito o que fizeram, chegamos em uma mesma conclusão para todos: o poder lhes subiu à cabeça. Viram o que poderiam alcançar e não se controlaram. Esse problema não é nada recente.
Pode até ser considerado um clichê, mas vamos tratar hoje de uma famosa pergunta sobre a nossa Parashá. Existe uma contradição. No inicio da Parashá, quando Moshe enviou os espiões para a terra de Israel, a Torá diz que todos eram “pessoas lideres das tribos de Israel”. A palavra “pessoas” não precisava ser escrita, e Rashi conclui que isso vem nos ensinar que todos os escolhidos eram tsadikim. Por outro lado, quando os espiões voltaram de sua visita em Israel, o passuk nos conta: “e saíram, e vieram” e Rashi aprende daqui que da mesma forma como quando eles saíram para a sua missão estavam mal intencionados, assim também quando eles chegaram de volta para relatar o que viram. A pergunta é automática: os espiões afinal eram boas pessoas ou estavam com más intenções (partimos do principio que se fossem bonzinhos, estariam bem intencionados desde o começo)?
Existe um número incontável de respostas para essa pergunta. Porém, encontrei uma que justamente se contrapõe com os tópicos muito atuais que citamos. Explica R Yaakov Kanievsky (1899-1985, Ucrania e Israel) que na verdade não há nenhuma contradição, pois estamos tratando de pontos diferentes na linha do tempo. O primeiro Rashi que explica que os espiões eram tsadikim está falando sobre a hora que eles foram escolhidos. Nessa hora, antes deles receberem o poder e o cargo de exploradores do povo, todos eram ótimas pessoas. Inclusive, explica o Ramban que a ordem na qual a Torá relata a nomeação de cada um deles é a ordem de grandeza. Ou seja, Yeoshua e Kalev, os dois que não participaram do pecado e defenderam Israel, estavam nas últimas posições. Porém, quando os espiões receberam esse título, um cargo novo que lhes dava a autoridade de relatar o que veriam em Israel, o poder lhes subiu à cabeça, e eles foram desde o início com más intenções, como explicou o segundo Rashi.
A partir do momento que os espiões entenderam que toda a informação que o povo receberia partiria deles e não haveria como comprovar, eles passaram a olhar para a missão com a seguinte questão: “o que eu posso dizer ou fazer para que eu obtenha os maiores benefícios, mesmo que seja em detrimento de todo o povo?” Não souberam lidar com o poder e com um alto cargo, e por isso acabaram falando mal de Israel. Mas o que eles ganhariam com isso? Diz o Zohar que assim que o povo entrasse em Israel, Hashem trocaria os lideres das tribos, pois seria um novo sistema de vida diferente do deserto, que exigiria novos lideres para cada tribo.

Quando pessoas atingem um alto cargo em alguma instituição, seja esta no campo de business, politica, religião ou futebol, é necessário manter os pés no chão. Os desafios são enormes, pois muitas vezes essas pessoas nunca se imaginaram com tanto domínio e influência. Não pode deixar o olho crescer. Há de se entender que se o poder está em suas mãos, Hashem assim quis, então tudo deve ser feito da melhor maneira possível, sempre prezando pela honestidade, algo que faltou aos espiões. Apesar de escritas milhares de anos atrás, as mensagens da Torá se mostram cada vez mais contemporâneas e atuais.

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