Eu poderia iniciar esse Dvar Torá com exemplos vivos de
nossa própria comunidade, que eu mesmo presenciei ou ouvi de fontes primárias.
Cairiam como uma luva, pois tem tudo a ver com a mensagem de nossa Parashá.
Porém, como não quero entrar em polêmicas, narrarei rapidamente um fato que
aconteceu em Israel e saiu nas noticias há mais ou menos 4 meses.
Era de noite, em uma das maiores e mais famosas yeshivot da
cidade de Bnei Brak precisavam decidir quem seria o chazan da reza de Arvit.
Quando um aluno se candidatou, um grupo de estudantes se opôs, pois ele
pertencia à um grupo de ultra ortodoxos chamados “sonim (que significa: os que
odeiam)”, nome esse ligado aos seus ideais políticos. Então outro aluno se
prontificou a ser o chazan, e logo foi barrado por pertencer ao grupo
“mechablim (literalmente, os terroristas), referindo-se a um grupo de ultra
ortodoxos, com ideais políticos diferentes do primeiro. O resultado: uma briga
generalizada dentro da sinagoga, que terminou com alunos presos e mais de vinte
feridos. Tudo isso pois não chegaram num consenso de quem deveria ser o chazan.
Aqueles que gostam de uma boa briga, deveriam aprender com
a Parashá dessa semana a levar uma vida mais “paz e amor”. Korach foi um dos
primeiros na historia a tentar organizar um motim com a função de tentar jogar
pessoas de Bnei Israel contra seu próprio líder. Muitas foras suas
reivindicações, entre elas o fato de Moshe ter virado o líder e seu irmão
Aharon o Kohen Gadol.
Sobre esse acontecimento, diz o Pirkei Avot: qual é o
exemplo de uma discussão que é leshem shamaim (em nome de Hashem)? A discussão
entre os sábios Hilel e Shamai. E qual o exemplo de uma discussão que não é
leshem shamaim? A discussão de Korach e seu grupo. A pergunta em nosso trecho é
muito óbvia. Há uma grande diferença entre as duas partes. Quando fala-se da
discussão entre Hilel e Shamai, a Mishna traz os dois lados, os nomes dos dois
que discutiam um com o outro. Porém, quando a Mishna menciona a discussão de
Korach, que não foi leshem shamaim, deveria trazer os dois lados também! Então deveria
estar escrito “a discussão de Korach e Moshe”, e não a discussão de Korach e
seu grupo de pessoas. Afinal foi com Moshe que eles discutiram!
Uma das respostas interessantes para essa pergunta é que a
discussão entre Korach e Moshe não é um bom exemplo de uma discussão que não é
leshem shamaim, pois nela, um dos lados sim estava discutindo em nome de
Hashem: Moshe. Tudo o que ele queria era que o povo lhe aceitasse como o líder
escolhido por D’us, pois ele sabia que havia recebido o cargo diretamente do
altíssimo, por puro merecimento. Então nesse caso, um dos lados não era nada
leshem shamaim, Korach, porém outro sim o era, Moshe. Mas houve em nossa
Parashá, talvez não tão claramente mencionada, uma outra discussão pesada, e
essa sim foi completamente à toa, com os dois lados sem nenhuma boa intenção: a
discussão entre Korach e o seu grupo. Esses discutiam constantemente, apesar de
não aparecer na Torá, cada um tinha um objetivo, um requerimento diferente e
almejava obter resultados distintos de seu companheiro. Por isso que a
discussão entre “Korach e seu grupo” foi trazida como o exemplo daquela que não
era leshem shamaim.
Vamos analisar um pouco de quem estamos falando aqui.
Korach pertencia à tribo de Levi. Ele era uma das pessoas que carregavam a arca
sagrada, o mais santo dos utensílios do Mishkan toda vez que o povo se
locomovia. Diz o Midrash que Korach tinha a providencia divina e conseguia ter
visões do futuro (Ruach Hakodesh). Não estamos falando de um pé rapado. Como
será que ele via a briga que havia causado? Com certeza seu objetivo não era
apenas criar um caso e bagunçar. É muito claro o fato dele ver a sua discussão
com Moshe e com os outros integrantes de seu grupo como uma argumentação leshem
shamaim, em nome de Hashem. Apesar de tudo isso, o Pirkei Avot cita esse caso
como o perfeito exemplo de uma discussão que não foi leshem shamaim. E além disso,
todos sabemos que ele foi punido, recebeu uma morte um tanto dramática.
Hoje em dia a comunidade judaica assiste constantemente
pessoas que se metem em discussões e brigas, causadas por motivos políticos,
mas que dizem ser leshem shamaim. Gente que possui títulos importantes antes de seus nomes discutindo, ameaçando, boicotando e proibindo coisas que deveriam ser
permitidas, tudo por causa de seus próprios interesses, mas sempre dizendo que
estão agindo leshem shamaim. Diz o Prikei Avot que Hashem não gosta que usem
Seu nome como pretexto para criar causos desnecessários. Isso não é considerado
leshem shamaim. Somos um povo já tão pequeno em quantidade, que deveríamos unir
nossas forças para obtermos o melhor de tudo ao invés de presenciar brigas e
separações que só atrapalham o crescimento espiritual de todos. Leonardo da
Vinci certa vez disse a seguinte frase: “Para estar junto, não é preciso estar
perto, e sim do lado de dentro”. Estamos perto um do outro, mas com certeza muitos
estão do lado de fora.
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