quinta-feira, 18 de junho de 2015

Korach - Juntos Somos Mais Fortes!

Eu poderia iniciar esse Dvar Torá com exemplos vivos de nossa própria comunidade, que eu mesmo presenciei ou ouvi de fontes primárias. Cairiam como uma luva, pois tem tudo a ver com a mensagem de nossa Parashá. Porém, como não quero entrar em polêmicas, narrarei rapidamente um fato que aconteceu em Israel e saiu nas noticias há mais ou menos 4 meses.
Era de noite, em uma das maiores e mais famosas yeshivot da cidade de Bnei Brak precisavam decidir quem seria o chazan da reza de Arvit. Quando um aluno se candidatou, um grupo de estudantes se opôs, pois ele pertencia à um grupo de ultra ortodoxos chamados “sonim (que significa: os que odeiam)”, nome esse ligado aos seus ideais políticos. Então outro aluno se prontificou a ser o chazan, e logo foi barrado por pertencer ao grupo “mechablim (literalmente, os terroristas), referindo-se a um grupo de ultra ortodoxos, com ideais políticos diferentes do primeiro. O resultado: uma briga generalizada dentro da sinagoga, que terminou com alunos presos e mais de vinte feridos. Tudo isso pois não chegaram num consenso de quem deveria ser o chazan.
Aqueles que gostam de uma boa briga, deveriam aprender com a Parashá dessa semana a levar uma vida mais “paz e amor”. Korach foi um dos primeiros na historia a tentar organizar um motim com a função de tentar jogar pessoas de Bnei Israel contra seu próprio líder. Muitas foras suas reivindicações, entre elas o fato de Moshe ter virado o líder e seu irmão Aharon o Kohen Gadol.
Sobre esse acontecimento, diz o Pirkei Avot: qual é o exemplo de uma discussão que é leshem shamaim (em nome de Hashem)? A discussão entre os sábios Hilel e Shamai. E qual o exemplo de uma discussão que não é leshem shamaim? A discussão de Korach e seu grupo. A pergunta em nosso trecho é muito óbvia. Há uma grande diferença entre as duas partes. Quando fala-se da discussão entre Hilel e Shamai, a Mishna traz os dois lados, os nomes dos dois que discutiam um com o outro. Porém, quando a Mishna menciona a discussão de Korach, que não foi leshem shamaim, deveria trazer os dois lados também! Então deveria estar escrito “a discussão de Korach e Moshe”, e não a discussão de Korach e seu grupo de pessoas. Afinal foi com Moshe que eles discutiram!
Uma das respostas interessantes para essa pergunta é que a discussão entre Korach e Moshe não é um bom exemplo de uma discussão que não é leshem shamaim, pois nela, um dos lados sim estava discutindo em nome de Hashem: Moshe. Tudo o que ele queria era que o povo lhe aceitasse como o líder escolhido por D’us, pois ele sabia que havia recebido o cargo diretamente do altíssimo, por puro merecimento. Então nesse caso, um dos lados não era nada leshem shamaim, Korach, porém outro sim o era, Moshe. Mas houve em nossa Parashá, talvez não tão claramente mencionada, uma outra discussão pesada, e essa sim foi completamente à toa, com os dois lados sem nenhuma boa intenção: a discussão entre Korach e o seu grupo. Esses discutiam constantemente, apesar de não aparecer na Torá, cada um tinha um objetivo, um requerimento diferente e almejava obter resultados distintos de seu companheiro. Por isso que a discussão entre “Korach e seu grupo” foi trazida como o exemplo daquela que não era leshem shamaim.
Vamos analisar um pouco de quem estamos falando aqui. Korach pertencia à tribo de Levi. Ele era uma das pessoas que carregavam a arca sagrada, o mais santo dos utensílios do Mishkan toda vez que o povo se locomovia. Diz o Midrash que Korach tinha a providencia divina e conseguia ter visões do futuro (Ruach Hakodesh). Não estamos falando de um pé rapado. Como será que ele via a briga que havia causado? Com certeza seu objetivo não era apenas criar um caso e bagunçar. É muito claro o fato dele ver a sua discussão com Moshe e com os outros integrantes de seu grupo como uma argumentação leshem shamaim, em nome de Hashem. Apesar de tudo isso, o Pirkei Avot cita esse caso como o perfeito exemplo de uma discussão que não foi leshem shamaim. E além disso, todos sabemos que ele foi punido, recebeu uma morte um tanto dramática.

Hoje em dia a comunidade judaica assiste constantemente pessoas que se metem em discussões e brigas, causadas por motivos políticos, mas que dizem ser leshem shamaim. Gente que possui títulos importantes antes de seus nomes discutindo, ameaçando, boicotando e proibindo coisas que deveriam ser permitidas, tudo por causa de seus próprios interesses, mas sempre dizendo que estão agindo leshem shamaim. Diz o Prikei Avot que Hashem não gosta que usem Seu nome como pretexto para criar causos desnecessários. Isso não é considerado leshem shamaim. Somos um povo já tão pequeno em quantidade, que deveríamos unir nossas forças para obtermos o melhor de tudo ao invés de presenciar brigas e separações que só atrapalham o crescimento espiritual de todos. Leonardo da Vinci certa vez disse a seguinte frase: “Para estar junto, não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro”. Estamos perto um do outro, mas com certeza muitos estão do lado de fora.

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