quinta-feira, 4 de junho de 2015

Behaalotchá - A sua hora vai chegar

Quando era pequeno, eu costumava frequentar as colônias Gan Israel. No final de cada colônia, os organizadores costumavam das prêmios para os acampantes mais dedicados em várias áreas. O melhor de cada grupo, o melhor de cada shiur, o mais dedicado nas rezas, e no final entregavam um diploma ao melhor acampante de toda a colônia. Me lembro de uma vez, há muitos anos, que na hora da distribuição desses prêmios eu estava empolgado. Havia me comportado bem na colônia e tinha certeza que ganharia o prêmio de melhor acampante do meu grupo. Porém, o tempo foi passando, deram o melhor do shiur pra um, o melhor da reza pra outro, e não me deram o prêmio de melhor do meu grupo! Nessa hora de decepção, me virei para o meu madrich e lhe mostrei o meu descontentamento. Ele me respondeu: “calma, o seu vai ser ainda melhor”. Na hora entendi o que ele estava me dizendo: eu ganharia o prêmio de melhor acampante de toda a colônia, e foi isso que aconteceu.
Logo no início da Parashá dessa semana, encontramos a mitsvá do acendimento das velas da menorá no Mishkan. Quem o fazia era o Kohen Gadol e por isso Hashem ordenou Moshe a passar este mandamento ao seu irmão Aharon.
Rashi no começo deste assunto nos traz uma famosa pergunta e uma explicação mais famosa ainda. A Parashá anterior terminou falando sobre as oferendas que os presidentes de cada tribo trouxeram na inauguração do Mishkan. E, como já citamos, essa Parashá começa tratando do acendimento da menorá. Como já estamos cansados de falar, tudo na Torá tem um motivo, então a pergunta: qual a relação entre esses dois assuntos? A resposta que Rashi traz é que quando Aharon viu todos os nessiim trazendo suas contribuições ao Mishkan, ele se sentiu mal de não poder participar dessa inauguração. Afinal, ele também queria trazer um presente! Hashem lhe respondeu para não ficar melindrado, uma vez que ele teria a sua chance de contribuir todos os dias, ao acender a menorá no Mishkan. O interessante é que Hashem disse para Aharon a seguinte frase: “o seu é maior do que os deles”, ou seja o acendimento da menorá é um ato maior do que os korbanot trazidos pelos chefes tribais. A pergunta que todos nós deveríamos estar fazendo nesse momento é simples: por que?
Diz o Midrash Raba que a diferença entre o acendimento da menorá e os korbanot, que faz o primeiro ser considerado um acontecimento de maior expressão é o período de duração de cada um deles. Os Korbanot estavam limitados à duração do Beit Hamikdash. Enquanto o templo existia, trazia-se os korbanot. Porém, após sua destruição, apesar de as rezas lhes substituírem, os korbanot pararam de ser trazidos. Por outro lado, as velas sempre continuarão sendo acesas, mesmo nos tempos em que não temos mais o templo. Cabe aqui uma outra pergunta, talvez tão óbvia como a primeira que fizemos. Após a destruição do Beit Hamikdash, o acendimento da menorá consequentemente deixou de existir! Não existe mais essa mitsvá, então como o Midrash pode dizer que o acendimento das velas é algo perpétuo?
Diz o Ramban em nossa Parashá que Hashem prometeu para Aharon que por méritos dos kohanim a mitsvá das velas seria cumprida para sempre, apesar do fato da menorá ter deixado de ser acesa após a destruição do Beit Hamikdash. Todos conhecemos a história de Chanuka, quando o povo judeu, representado pela família dos Chashmonaim, que eram kohanim, venceu a guerra contra os gregos, e encontrou aquele pequeno pote de óleo que acabou durando oito dias. Em agradecimento e para propagar esse milagre, todas as casas de Am Israel acendem anualmente as velas de Chanuka. Segundo essa explicação do Ramban, a resposta do Midrash faz muito sentido! Hashem quando disse para Aharon que a sua Mitsva era maior que as dos nesiim já que duraria para sempre, estava se referindo à mitsvá de Chanuka, que cumprimos hoje graças aos Chashmonaim, que eram descendentes de Aharon! E não ao acendimento da menorá, como pensávamos no começo.

Muitas vezes vemos pessoas participando de algum evento, fazendo alguma coisa ou recebendo algo, e desejamos o mesmo para nós. Queremos muito isso, sabemos que merecemos! Nos perguntamos por que isso não está ocorrendo com a gente. Isso pode acabar gerando um sentimento de decepção e desapontamento. Porém, se aplicarmos a ideia dessa Parashá em nossas vidas, mudaremos completamente o enfoque. Se não está acontecendo agora é porque agora ainda não é o momento. A sua hora vai chegar. E há muita chance de o seu ser ainda melhor do que o que você está vendo agora. Na Gan Israel, eu ri por último. E ri muito melhor.

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