sexta-feira, 29 de maio de 2015

Nassó - Dirija com o intelecto

Essa semana leremos a Parashá mais longa da Torá. Como era de se esperar, há muito sobre o que falar. Vamos porém abordar um tema que não é dos mais conhecidos, porém muito interessante. Um dos assuntos presentes nessa porção é o do nazir. Quando uma pessoa decide se tornar um nazir, ele não pode beber ou comer nada ligado ao vinho e à uva, assim como fica proibido cortar o cabelo. Hoje em dia é muito raro encontrarmos algum nazir, porém em Israel às vezes vemos um ou outro.
Diz o passuk que quando acabam os dias de nazir de alguém (a decisão era tomada por um certo período de tempo), ele deveria trazer alguns sacrifícios no Mishkan. Vamos analisar as palavras do passuk: “No dia que se completarem os dias de nazir, ele deve traze-lo para o Mishkan" (para oferecer os sacrifícios). Há nesse passuk uma conjugação muito estranha. A intenção da Torá é dizer que o nazir deveria ir ao Mishkan. Porém a linguagem usada foi “traze-lo”, como se houvesse uma outra pessoa envolvida! O que isso quer dizer, e porque a Torá usou justamente essa linguagem ao invés de dizer simplesmente que o nazir deve ir ao Mishkan?
Rashi, como já estamos acostumados, explica a primeira pergunta. A expressão “traze-lo” no passuk não possui nenhum significado especial. Na verdade é exatamente como falamos. A explicação é que o nazir deveria ir ao Mishkan. Nas palavras de Rashi, “trazer ele mesmo ao Mishkan". Fica então a pergunta: por qual motivo a Torá escreveu suas palavras dessa maneira, em terceira pessoa?
Diz o Meshech Chochma (1843-1926, Lituania) que para entendermos o uso dessa linguagem, devemos analisar o motivo pelo qual uma pessoa decidia virar um nazir. Ele explica que essa decisão funcionava como uma prescrição medica, para a pessoa obter um maior controle sobre as suas vontades e o seu egoísmo. Esse objetivo era alcançado através dessa separação do materialismo, representado pelo vinho e o corte de cabelo, por um certo período de tempo. Quando terminavam os dias de nazir de uma pessoa, ela mudava. E essa mudança fazia que ela se relacionasse com os seus próprios desejos da mesma maneira que o fazia com o desejo de outra pessoa. Como assim?
Quando vemos que alguém está com muita vontade de comer um petit gauteau, por exemplo, e não o queremos tanto assim, é muito fácil para nós rejeitarmos o doce. Parece uma decisão simples, uma vez que não o desejamos com a mesma intensidade que o outro. Mas para ele, provavelmente será muito difícil dizer não ao petit gauteau.
O nazir, após completar o seu período de contenção, deveria se relacionar com seus próprios sentimentos da mesma maneira como nós nos posicionamos em relação aos de uma outra pessoa. E a Torá nos deu uma indicação dessa mensagem ao dizer especificamente que o nazir deve “traze-lo” ao Mishkan, como se estivesse falando de outra pessoa. Pois é assim que o nazir via a si mesmo.
Não eram todas as pessoas que se encontravam no nível espiritual tão elevado para virar um nazir. A própria Guemará diz que apenas pessoas muito santas que viviam quase que fora da realidade desse mundo podiam tomar essa decisão e conseguiam cumprir suas metas. Porém, o que sim podemos fazer é pegar a ideia e tentar aplica-la em nosso cotidiano.

Muitas vezes pessoas tomam decisões baseadas em algum desejo ou sentimento, e as executam com um impulso, sem refletir. O resultado disso pode acabar sendo prejudicial. Todos possuem uma força de vontade que lhes da a capacidade de se controlar, por mais difícil que pareça. Isso se aplica em tudo, desde um regime até uma discussão, quando perdemos o controle e dizemos algo que não deveríamos. O segredo é colocar o intelecto no volante de nossas vidas, pensar e refletir antes de tomar qualquer decisão importante e não agir compulsivamente. Como está escrito no livro do Tania, o intelecto se encontra acima do coração.

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