quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Tetsave - A Mensagem Do Vestido Preto e Azul

Afinal, o vestido é preto e azul ou branco e dourado? Para aqueles desatualizados, vamos aos fatos: quinta feira a noite (26/02) uma foto de um vestido (acima) foi postada na rede social Tumblr. A pessoa que postou estava desesperada, porque lhe falaram que o vestido era azul e preto, porém tudo o que ele via na foto eram as cores branco e dourado. A partir daí virou viral. A imagem correu o mundo, recebi aqui nos EUA de pessoas do Brasil, assim como vi muita gente aqui discutindo sobre a cor do vestido. Na mesma imagem, muitos viam um vestido branco e dourado. Outros, preto e azul. Virou noticia, teorias foram criadas, pessoas ficaram amedrontadas. Segue a explicação bem básica: na verdade, o vestido é realmente preto e azul. Algumas pessoas vêm branco e dourado pois são enganadas por suas retinas, que tentam compensar a falta de luz da foto. Apesar de ser absurda a maneira como algo assim se espalhou tão rapidamente, podemos aprender uma importante mensagem desse acontecimento.
O primeiro passuk dessa Parashá se refere à produção do óleo de oliva para acender as velas no Mishkan. A Parashá passada foi quase que inteiramente dedicada à construção do Mishkan e dos utensílios que lá seriam usados. Nossa Parashá possui como assunto principal as roupas do Kohen Gadol, com todos os seus detalhes. Por que então no meio desses dois assuntos, logo no inicio de nossa Parashá, temos o assunto do acendimento das velas no Mishkan? A Torá ainda não começou a falar sobre o trabalho que era feito no santuário, isso ocorre quase que completamente no livro de Vaikrá! Então por que o acendimento das velas é trazido aqui? Além disso, o próprio acendimento das velas é trazido na Parashá Emor. As palavras lá são muito parecidas com as de nossa Parashá. Por que a repetição?
Só mais uma pergunta: não sei quem percebeu, mas a primeira palavra dessa Parashá é “Veatá”, que significa “e você”. Por que Hashem precisou usar a conjunção coordenativa “e” (que junta duas orações, praqueles que estão por fora da gramática), na primeira palavra da Parashá? Com o que essa ordem do acendimento das velas do Mishkan está relacionada?
Bom, acho que já temos perguntas demais. Temos de responde-las agora, se não, sei que vocês não conseguirão dormir de noite, tamanha a dificuldade de entender esse passuk.
A resposta se encontra na Guemará de Shabat (22b). A Guemará pergunta por que Hashem precisa da luz de velas em seu santuário? Afinal, por 40 anos Am Israel andou no deserto iluminados pela luz do próprio Hashem! Responde a Guemará que a função das velas era mostrar para o mundo que a santidade de Hashem pairava sobre o Mishkan. Como as pessoas veriam isso nas velas? Existia uma vela específica que ficava acesa de uma noite até a outra, não se apagava, e através desse milagre as pessoas compreenderiam que havia uma providência divina que pairava sobre o santuário e influenciava o povo judeu.
Se analisarmos as palavras do passuk em nossa Parashá, não está escrito velas no plural, e sim “vela”. Por outro lado, na Parashá Emor, está escrito “velas”. Agora podemos entender o porque dessa diferença, e a resposta para nossas perguntas. O objetivo da construção do Mishkan era o acendimento dessa vela, para mostrar ao mundo a providencia divina que constantemente acompanha o nosso povo. Portanto, logo após a construção do Mishkan ser ordenada e explicada, a Torá escreve sobre o acendimento da vela para explicar que esse é todo o objetivo dessa obra. Por isso que está no singular, porque aqui se refere à essa vela que ficava constantemente acesa. Já em Parashat Emor, a Torá escreve sobre o trabalho do Mishkan, o acendimento das “velas”, pois lá a intenção era explicar o serviço dos Kohanim. Assim, esse relato do acendimento está escrito duas vezes. Uma é a finalidade da construção, outra são as leis do trabalho em si.
Agora fica fácil de entender também o porque de nossa Parashá ter começado com a conjunção “e”, uma vez que esse assunto do acendimento da vela está totalmente ligado com a Parashá anterior, é uma continuação, a explicação do porque da construção do Mishkan da Parashat Trumá.

Atualmente infelizmente não temos o Beit Hamikdash, por isso não presenciamos esse milagre da vela. Porém, é preciso saber que a providência divina está sempre conosco. Às vezes, não conseguimos enxergar a vela acesa. Temos porém de ter em mente que Hashem está sempre conosco, nos acompanhando, direcionando o seu povo ao caminho certo. Diariamente presenciamos ou somos protagonistas de acontecimentos que não nos parecem bons. Temos de saber que sempre há uma providencia divina. Pode ser que nunca saberemos o motivo daquilo que aconteceu. Ou, ficaremos ao par muitos anos depois. Fato é que Hashem não abandona o seu povo, e por isso, tudo o que ocorre é para o bem. O importante é que a mensagem fique clara em nossas mentes: o que parece branco e dourado, na verdade pode ser preto e azul.

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