Afinal, o vestido é preto e azul ou branco e dourado? Para aqueles
desatualizados, vamos aos fatos: quinta feira a noite (26/02) uma foto de um
vestido (acima) foi postada na rede social Tumblr. A pessoa que postou estava
desesperada, porque lhe falaram que o vestido era azul e preto, porém tudo o
que ele via na foto eram as cores branco e dourado. A partir daí virou viral. A
imagem correu o mundo, recebi aqui nos EUA de pessoas do Brasil, assim como vi
muita gente aqui discutindo sobre a cor do vestido. Na mesma imagem, muitos
viam um vestido branco e dourado. Outros, preto e azul. Virou noticia, teorias
foram criadas, pessoas ficaram amedrontadas. Segue a explicação bem básica: na
verdade, o vestido é realmente preto e azul. Algumas pessoas vêm branco e
dourado pois são enganadas por suas retinas, que tentam compensar a falta de
luz da foto. Apesar de ser absurda a maneira como algo assim se espalhou tão
rapidamente, podemos aprender uma importante mensagem desse acontecimento.
O primeiro passuk dessa Parashá se refere à produção do óleo de oliva
para acender as velas no Mishkan. A Parashá passada foi quase que inteiramente
dedicada à construção do Mishkan e dos utensílios que lá seriam usados. Nossa
Parashá possui como assunto principal as roupas do Kohen Gadol, com todos os
seus detalhes. Por que então no meio desses dois assuntos, logo no inicio de
nossa Parashá, temos o assunto do acendimento das velas no Mishkan? A Torá
ainda não começou a falar sobre o trabalho que era feito no santuário, isso
ocorre quase que completamente no livro de Vaikrá! Então por que o acendimento
das velas é trazido aqui? Além disso, o próprio acendimento das velas é trazido
na Parashá Emor. As palavras lá são muito parecidas com as de nossa Parashá.
Por que a repetição?
Só mais uma pergunta: não sei quem percebeu, mas a primeira palavra
dessa Parashá é “Veatá”, que significa “e você”. Por que Hashem precisou usar a
conjunção coordenativa “e” (que junta duas orações, praqueles que estão por
fora da gramática), na primeira palavra da Parashá? Com o que essa ordem do
acendimento das velas do Mishkan está relacionada?
Bom, acho que já temos perguntas demais. Temos de responde-las agora,
se não, sei que vocês não conseguirão dormir de noite, tamanha a dificuldade de
entender esse passuk.
A resposta se encontra na Guemará de Shabat (22b). A Guemará pergunta
por que Hashem precisa da luz de velas em seu santuário? Afinal, por 40 anos Am
Israel andou no deserto iluminados pela luz do próprio Hashem! Responde a
Guemará que a função das velas era mostrar para o mundo que a santidade de
Hashem pairava sobre o Mishkan. Como as pessoas veriam isso nas velas? Existia
uma vela específica que ficava acesa de uma noite até a outra, não se apagava,
e através desse milagre as pessoas compreenderiam que havia uma providência
divina que pairava sobre o santuário e influenciava o povo judeu.
Se analisarmos as palavras do passuk em nossa Parashá, não está
escrito velas no plural, e sim “vela”. Por outro lado, na Parashá Emor, está
escrito “velas”. Agora podemos entender o porque dessa diferença, e a resposta
para nossas perguntas. O objetivo da construção do Mishkan era o acendimento dessa vela, para mostrar ao
mundo a providencia divina que constantemente acompanha o nosso povo. Portanto,
logo após a construção do Mishkan ser ordenada e explicada, a Torá escreve
sobre o acendimento da vela para explicar que esse é todo o objetivo dessa obra.
Por isso que está no singular, porque aqui se refere à essa vela que ficava
constantemente acesa. Já em Parashat Emor, a Torá escreve sobre o trabalho do
Mishkan, o acendimento das “velas”, pois lá a intenção era explicar o serviço
dos Kohanim. Assim, esse relato do acendimento está escrito duas vezes. Uma é a
finalidade da construção, outra são as leis do trabalho em si.
Agora fica fácil de entender também o porque de nossa Parashá ter
começado com a conjunção “e”, uma vez que esse assunto do acendimento da vela
está totalmente ligado com a Parashá anterior, é uma continuação, a explicação
do porque da construção do Mishkan da
Parashat Trumá.
Atualmente infelizmente não temos o Beit Hamikdash, por isso não
presenciamos esse milagre da vela. Porém, é preciso saber que a providência
divina está sempre conosco. Às vezes, não conseguimos enxergar a vela acesa.
Temos porém de ter em mente que Hashem está sempre conosco, nos acompanhando,
direcionando o seu povo ao caminho certo. Diariamente presenciamos ou somos
protagonistas de acontecimentos que não nos parecem bons. Temos de saber que
sempre há uma providencia divina. Pode ser que nunca saberemos o motivo daquilo
que aconteceu. Ou, ficaremos ao par muitos anos depois. Fato é que Hashem não abandona
o seu povo, e por isso, tudo o que ocorre é para o bem. O importante é que a
mensagem fique clara em nossas mentes: o que parece branco e dourado, na
verdade pode ser preto e azul.
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