O inverno Israelense não é dos piores. Apesar do frio e de
bastante chuva (graças a D’us), os meses de inverno em Israel são bem
suportáveis, com temperatura na casa das baixas dezenas. Em alguns anos porém,
por poucos dias, uma frente fria invade Israel, fazendo as temperaturas caírem
drasticamente, beirando a zero, e por ventura resultando em neve. Minha família
esteve em Israel nesse mês de Janiero por exatos seis dias. E tivemos o prazer
de sermos brindados com uma nevasca que durou metade dos dias de nossa viagem,
além da temperatura que variou de 0 a 7 graus. Um dia depois que saímos, a
temperatura já batia os 15 graus, e por lá continuou. Muitos, ao ouvir esse
relato, podem pensar que tivemos muita má sorte. Afinal, pegamos exatamente a
pior semana do ano! Porém, gostaria de trazer uma outra visão sobre o ocorrido.
Na Parashá dessa semana, temos a famosa história da
abertura do mar vermelho. Ao serem perseguidos pelos egípcios, o povo judeu se
deparou com o mar em sua frente, e para salvá-los, D’us o abriu, logo depois
fechando-o sobre os perseguidores. Sobre esse acontecimento, nos conta o
Midrash, que Am Israel reclamou muito enquanto passavam pelo mar. A reclamação
foi que no Egito eles já tinham que lidar com barro para produzir os tijolos,
então por que precisavam lidar com o barro novamente, ao atravessar o mar? Será
que Hashem não poderia ter feito mais um pequeno milagre, e tornado o chão
seco?
Se analisarmos um pouco a situação, veremos que essa
reclamação não faz o menor sentido. O povo estava preso entre os egípcios e o
mar. Não tinham para onde ir. Alguns já estavam até pensando em se entregar,
outros iriam se jogar nas águas e se matar. D’us foi lá e fez nada menos que o
mar se abrir para seu povo, fechando-o bem na hora que os egípcios estavam
passando. Isso, após os muitos milagres que ocorreram no próprio Egito antes do
povo ser libertado. Por que então o povo estava reclamando de um detalhe tão
pequeno, o barro em seus pés?
Na Torá encontramos muitos outros exemplos de situações
parecidas com essa. Logo após cruzar o mar, o povo reclamou novamente, porém
com um pouco mais de razão, alegando que não havia comida. Hashem então lhes
forneceu o man. Será que haveria algum alimento melhor do que o man? Tinha o
gosto que cada um queria, as pessoas não precisavam ir ao banheiro, e,
principalmente, era grátis! Dizemos que o dinheiro não cai do céu, mas o man
literalmente caía. Apesar disso, no livro de Bamidbar encontramos o povo reclamando
sobre o man e pedindo por carne. Como podemos entender essas reações extremas
de Am Israel?
O Rebe de Kotzk explica que a felicidade de uma pessoa
depende de sua atitude perante as coisas. Há aqueles que são pessimistas. Nada
está bom para eles. Sempre faltará algo, a todo momento há do que reclamar.
Para esses, o copo estará sempre com a metade vazia. Há, por outro lado,
aqueles otimistas, que sempre procuram ver o lado bom das coisas. Há o que
melhorar? Sim. Mas foquemos nas coisas boas que existem no momento. O copo
estará sempre com a metade preenchida.
Uma pessoa pode presenciar os maiores milagres, as maiores
maravilhas, porém se o seu olhar estiver focado nos problemas, nas faltas e nos
defeitos, nada disso lhe satisfará. Depois da travessia do mar vermelho, Am
Israel chegou em um local chamado Mará, que significa amargo. Nos diz a Torá
que as pessoas não podiam beber a água desse lugar, pois era amarga, dando nome
ao próprio local. O Rebe de Kotzk (muito conhecido por suas interpretações
interessantes das palavras da Torá) lê esse passuk diferente: as pessoas não
podia beber a água de Mará pois elas estavam amargas. Estavam insatisfeitas e
reclamando das condições locais. Por mais que lá poderia haver água potável, iriam
pedir água Evian.
Voltando à nossa viagem, nossos aviões pousaram em Israel
na terça feira de noite, dia 6 de Janeiro. De madrugada, fomos a Yerushalaim,
onde tínhamos alugado um apartamento. Algumas horas depois que chegamos,
fecharam todo o acesso à cidade, devido à nevasca que começou na manhã de
quarta. Imaginem só se chegássemos um dia depois! Seria um caos! Teríamos de
alterar todos os nossos planos, procurar algum outro lugar para ficar no centro
de Israel, pois não haveria nem acesso à Yerushalaim. Sabe-se lá o que mais
aconteceria. Ainda bem que tudo deu certo!
Apesar da visão de mundo de cada um parecer algo fixo e
imutável (podemos facilmente rotular muita gente simplesmente como pessimista
ou otimista, pra baixo ou pra cima), devemos em nosso dia a dia tentar sempre procurar
o lado bom das coisas. Tirar os óculos escuros para enxergar o mundo a nossa
volta. Isso contribuirá, não apenas para que nos tornemos pessoas agradáveis de
se conviver, como também para nós mesmos nos sentirmos melhor com o nosso “eu”
interior.
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