Em Yom Kipur, na reza de Arvit, falamos a frase “Baruch Shem Kevod”, parte do Shema
Israel, em voz alta. Porém, quando rezamos Arvit após o término do jejum,
recitamos essa frase em voz baixa. Por que essa diferença? Todos conhecemos a
famosa resposta que em Yom Kipur somos comparados aos anjos, que, nos céus,
falam “Baruch Shem Kevod”
alto, e portanto também o fazemos. Porém, talvez devido ao fato de estarmos tão
acostumados a ouvir essa explicação, nunca paramos para pensar sobre ela.
Quando nos sentimos mais elevados? Em que parte do jejum estamos mais parecidos
com os anjos? Logo no inicio, quando estamos estufados após comermos uma grande refeição e
ainda quase não rezamos, ou no fim, quando estamos há 25 horas sem comer, após
termos rezado durante todo o dia? A princípio, teria mais logica se rezássemos
como anjos no fim do jejum, não no começo!
Para responder essa pergunta, analisemos uma parte da Parashá dessa
semana. Yaakov, quando estava em seu caminho para a casa de Lavan, teve um
sonho. Nesse sonho, ele viu anjos subindo e descendo uma escada que ia do chão
ao céu. Nossos sábios explicam que os anjos que estavam descendo eram aqueles
que acompanhariam Yaakov quando ele estivesse fora de Israel, e os anjos que
estavam subindo eram os que estavam lhe fazendo companhia na terra santa, que
não tinham permissão para sair de lá. Quando Yaakov estava voltando para
Israel, após ter trabalhado para Lavan por muitos anos e casado com suas duas
filhas, a “troca da guarda” ocorreu novamente. Numa cidade chamada Machanaim, os
anjos de Israel vieram lhe encontrar e os que estavam com ele subiram. O
estranho é o fato de Yaakov ainda estar dentro da terra de Israel quando os
anjos de lá saíram e os de fora chegaram. Por que isso não ocorreu no momento
no qual Yaakov realmente deixou Israel, e sim antes? A mesma coisa quando ele
voltou. Machanaim se situa fora da terra de Israel. Então por que não esperar
Yaakov chegar na fronteira para ocorrer a troca?
A resposta é que a essência de uma pessoa não é definida pelo momento
em que ela se encontra, e sim pelas intenções que estão em sua mente para o
futuro. Yaakov, mesmo que estava em Israel, já estava com a mentalidade
preparada para sair de lá e ir viver na casa de Lavan. Assim também quando
voltou, por mais que ainda não havia entrado em Israel, estava preparado
psicologicamente para isso. Por isso as trocas dos anjos ocorreram antes de
Yaakov chegar no limite de Israel. Somos considerados pelo que estamos
planejando para o futuro.
Assim também em Yom Kipur. No inicio do jejum, por mais que ainda não
estamos com fome, estamos preparados para enfrentar a maratona, rezar muito e
nos elevar pelas próximas 25 horas. Planejamos nos arrepender de nossos
pecados. Por isso, a partir desse momento, somos considerados anjos. No final do
jejum, por outro lado, já estamos cansados, pensando no que vamos comer, quando
vamos montar a suká, etc. Já não estamos mais com a mentalidade de anjos. Por
isso fazemos “Baruch Shem Kevod”
alto na reza de Arvit do inicio do jejum e não no final.
Nossa mentalidade rege nossas ações e tomadas de decisão. Nosso
psicológico é um fator muito poderoso em nossas vidas. Quando colocamos algo em
nossas cabeças e nos convencemos de que é certo e verdadeiro, muito
dificilmente mudaremos de opinião. Devemos então tomar cuidado com as ideias
que se formam em nosso intelecto para podermos tomar decisões coerentes e estar
sempre no rumo certo.
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