quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Toldot - Reflexão Após a Tragédia de Terça-Feira

Estamos ainda nos recuperando do terrível atentado que aconteceu no bairro de Har Nof, localizado em Jerusalém, quando dois árabes entraram em uma sinagoga durante a reza de Shacharit e brutalmente assassinaram quatro rabinos, além de um policial druso que foi o primeiro a responder o chamado de socorro. Uma das vitimas era um irmão de um rabino que leciona na minha Yeshivá. Quando o povo judeu se encontra em situações difíceis como essa, sempre tentamos achar a mensagem que Hashem quer nos passar tão drasticamente. A verdade é, porém, que não temos como saber exatamente qual é a resposta para essa pergunta. Não há em nosso povo hoje em dia profetas como os que encontramos no Tanach, quando muitas vezes indicavam às pessoas o caminho certo a ser seguido. Podemos, contudo, tentar tirar alguma lição do trágico acontecimento.
No início da Parashá dessa semana a Torá nos conta que Itschak e Rivka rezaram pois não conseguiam ter filhos, Hashem os atendeu e nasceram Yaakov e Essav. As vezes, quando narramos alguma história, não nos importamos muito com  a ordem dos acontecimentos. Mas quando se trata da Torá, como já sabemos, tudo é motivo de análise. Se repararmos na sequência dos fatos, primeiramente a Torá nos relata que Itschak e Rivka rezaram. Depois vem o motivo: pois não conseguiam ter filhos. Não deveria ser o contrário? O normal seria antes ficarmos sabendo do problema e depois do que foi feito como consequência dele!
Rabeinu Bechaie (1255-1340, Espanha) explica que a Torá quer nos ensinar uma importante lição sobre causa e efeito. Na verdade, o que ocorreu não foi Itschak e Rivka terem rezado devido a ela não poder ter filhos. Na realidade, Hashem lhes mandou esse problema pois queria ouvir suas rezas. Ou seja, o principal na historia não era o fato de Rivka ser estéril, e sim a reza do casal que Hashem queria escutar. Por isso a tfilá nos foi narrada antes do problema. Essa ideia também é trazida na Guemará no tratado de Yevamot (64): Hashem fez as nossas três matriarcas estéreis, pois Ele gosta de ouvir as tiflot dos tsadikim. Às vezes Hashem nos manda dificuldades porque quer que rezemos. Que nos aproximemos Dele.
Não podemos pensar que episódios como o dessa última terça feira acontecem por acaso. Não devemos achar que nossas vidas são marcadas por coincidências que vão “calhando”. Quando somos surpreendidos com uma notícia ruim, temos de aprender com ela, e melhorar alguma coisa em nossas vidas. Medidas precisam ser tomadas. Então que mensagem, afinal, devemos tirar do drama pelo qual estamos passando?
Na Yeshiva University, onde estudo, houve na terça feira um evento onde foram faladas palavras de conforto em homenagem aos falecidos, e foi feito tehilim para os doentes. As palavras de abertura foram dadas por um dos Rosh Yeshiva, Rabino Penner, e ele mencionou algo que vale a pena repassar para frente. O que tornou esse atentado ainda mais chocante foi o fato dele ter ocorrido dentro de uma sinagoga, durante a reza. As imagens dos mortos com tfilin enrolados em seus braços e talitot estendidos sobre suas costas são muito fortes e impactantes.
Talvez pode ser sobre isso que devemos refletir. Como nos comportamos na sinagoga, principalmente na hora da reza. Quantas vezes não saímos correndo antes do Aleinu Leshabeach? Quem nunca passou a repetição da Amida inteira conversando? Já aconteceu de você de repente não saber em que parte está, pois estava pensando em outra coisa? Todos nós passamos por isso. E é muito difícil mudar. Principalmente hoje em dia, com o imediatismo que existe, impulsionado por toda a tecnológica presente em nossas vidas, em nossos bolsos. Parar por certo tempo para se concentrar na reza se torna cada dia mais complicado. Mas precisamos melhorar. E justamente devido à dificuldade da tarefa, qualquer ponto que mudamos significa muito. Colocar o celular no “não perturbe” durante a reza? Rezar lendo dentro do sidur? Só fechá-lo depois do Aleinu? Escolha apenas alguma coisa para colocar em prática. Afinal, Hashem gosta das rezas dos tsadikim. E da sua também.
Que as almas dos falecidos nos atentados que ocorreram em Israel nessas últimas semanas sejam elevadas. Que Hashem dê saúde aos enfermos e traga paz à nossa terra.

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