Nesta semana, começaremos a ler o quinto e último livro da Torá, Dvarim. Este livro se resume
basicamente em um extenso discurso que Moshe dá para o povo, logo antes de sua
morte, quando já estavam na iminência de entrar na terra de Israel. Moshe
dedica suas ultimas horas para advertir o povo, mostrando-lhes as coisas boas que
aconteceram, os erros cometidos, e como poderiam melhorar. Por isso, Moshe
falou para todos os integrantes de Am Israel, ninguém ficou de fora. Em todo o
seu discurso, é possível perceber como Moshe foi um grande líder para seu povo,
como já falamos anteriormente.
Logo no início, Moshe diz que não poderia aguentar toda a
carga que lhe era imposta, sozinho. Um líder não consegue dirigir o seu povo
sem que outras pessoas lhe ajudem a administrar. Ainda mais Am Israel no
deserto, que, convenhamos, eram pessoas muito complicadas. Moshe falou para o
povo: “Como eu poderia aguentar sozinho seu peso, sua carga e suas brigas?”
Sobre esse passuk, Rashi
explica: “Seu peso” quer dizer que o povo dava muito trabalho. Sempre em um
julgamento, se alguém via o seu oponente vencendo, diria que havia uma outra
testemunha, apenas para complicar mais o caso, mesmo sem ser verdade. “Sua
carga” significa que o povo estava sempre fofocando sobre Moshe, falando mal
dele em qualquer oportunidade. Se Moshe saía rápido de sua tenda, falavam que
ele estava com problemas em casa. Se atrasava, diziam que ele estava planejando
fazer mal ao povo, e por isso demorou.
Vemos que não era fácil para Moshe liderar sua nação. Muito
pelo contrário. Por isso, escolheu pessoas para lhe ajudar. Colocou
responsáveis por setores menores do povo, dividindo assim o trabalho. Porém,
quando Moshe foi avisar estas pessoas sobre a tarefa que deveriam cumprir,
disse algo, no mínimo estranho. Na continuação de seu discurso, em nossa
Parashá, Moshe conta: “E eu peguei os chefes de suas tribos”, para que
ajudassem a controlar o povo. Rashi
sobre essas palavras explica que Moshe falou para os lideres: “Como vocês são
sortudos de serem escolhidos para liderar Am Israel, os filhos de Avraham,
Itschak e Yaakov, pessoas que são irmãos e amigos!” Por que Moshe não falou a
verdade, sobre como o povo realmente se comportava? Por que ele disse que as
pessoas eram “mansas”? Parece que ele estava enganando os seus ouvintes!
A resposta é muito simples. O povo dava trabalho, sim.
Externamente, esses eram os atos que eram vistos. Porém, ao convocar pessoas
para lhe auxiliar na liderança do povo, Moshe estava lhes ensinando a primeira,
e talvez principal lição que um líder deve ter em sua mente: mesmo que às vezes
não pareça, Am Israel é um povo puro. É verdade que eles agem às vezes
negativamente, porém existe um potencial muito grande dentro de cada um. E isso
se dá pelo fato de serem descendentes de Avraham, Itschak e Yaakov. O trabalho
de um líder é, em detrimento do difícil comportamento das pessoas de seu povo,
tentar extrair o máximo do potencial implícito em suas almas.
Muitos já devem ter ouvido falar no conceito de “Zechut
Avot”, quando rezamos e pedimos perdão por causa dos méritos de nossos
antepassados. Se paramos para pensar, não faz muito sentido. Se uma pessoa é
filha de um homem muito rico e roubou um pão de uma padaria, será que ele
argumentaria para o juiz que deveria ser absolvido por ser filho de um homem muito
rico? Claro que não (pelo menos não no Brasil)! Isso só iria fazer com que seu
ato parecesse mais absurdo! Se queremos ser perdoados por nossos pecados, não
deveríamos dizer que somos descendentes dos três patriarcas, porque isso faria
parecer mais grave cada pecado que cometemos! Então o que quer dizer “Zechut
Avot”? Se mudarmos a pontuação, a vogal que fica embaixo da letra Zain, podemos
transformar a mesma palavra em “Zachut Avot”, a clareza, o brilho de nossos
antepassados. Pedimos perdão pelo fato de, apesar de pecarmos, dentro de nossas
almas, possuirmos a limpidez da alma de nossos antepassados. Somos como um
diamante que está sujo. Essa foi a mensagem que Moshe passou para os chefes das
tribos.
Toda pessoa tem suas boas características. Temos sempre de
ter em mente que, apesar da maneira como agimos, existe dentro de cada um de
nós um potencial muito grande. É nosso trabalho, não só tentar transformar o
nosso potencial em ações, mas também contribuir para que outros também o façam.
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