Na Parashá dessa semana, a Torá nos
transmite a Mitsvá de Shmitá: uma vez em sete anos, os campos precisam
“descansar”, e nenhum trabalho pode ser feito neles. A Torá nos conta que Hashem falou essa Mitsvá
para Moshe no Har Sinai. Rashi no local
traz uma famosa pergunta: por que justamente essa Mitsvá, há de ser dito que
nos foi dada no Har Sinai? Rashi responde
que a Torá quer nos
ensinar uma lição muito importante: da mesma maneira como esta Mitsvá teve
todos os seus detalhes ensinados no Har Sinai diretamente por Hashem, assim também
tiveram todas as outras Mitsvot da Torá. Ou seja,
não pense que apenas os dez mandamentos vieram naquela ocasião tão especial e
as outras Mitsvot não.
Essa é uma explicação muito bonita, porém não responde a pergunta. Se
todas as Mitsvot foram dadas no Har Sinai, e a Torá escolheu
uma delas para dizer isso e aplicarmos em todas as outras, por que justamente a
Mitsvá de Shmita foi a escolhida? A Torá poderia
ter escrito sobre qualquer outra Mitsvá que ela foi dada no Har Sinai, e
entenderíamos que todas as outras também! Por que a Torá nos diz especificamente sobre a Mitsvá de
Shmita que ela foi dada diretamente de Hashem no Har Sinai?
Na Parashá Mishpatim, logo depois que a Torá nos é
entregue, está escrito “Veele Hamishpatim”, “E essas são as leis,” para introduzir 42 novas Mitsvot que são
dadas para o povo judeu. À principio, a letra “E” no começo (ou a letra vav em hebraico) não precisava estar
escrita. Quando você quer introduzir um assunto para alguém, diz “Isso é o que
vou te dizer”, e não “E isso”. A
letra E nessa frase seria uma conjunção coordenativa aditiva, porém não a nada
aqui a ser adicionado! Sabemos que a Torá não possui
uma única letra a mais do que o necessário, então por que a Torá nos diz “E essas são as leis”?
A explicação lá em Mishpatim é que a Torá quer relacionar
as leis que serão ditas justamente com o Har Sinai que foi lembrado na Parashá
anterior, ou seja, não pense que apenas Mitsvot mais espirituais como “Anochi
Hashem Elokecha” ou “Não façam idolatria” foram dadas por Hashem no Har Sinai,
porém Mitsvot físicas, de nosso cotidiano, não possuem a mesma origem. A Torá quer que aplicamos a santidade que nos foi
transmitida no Sinai em nossa vida diária, nos assuntos materiais. Por isso a
Parashá Mishpatim começa justamente com o assunto de “Eved Ivri”, as leis sobre
um escravo judeu; um assunto dos mais mundanos e materiais possível. Tudo nos
foi passado no Har Sinai, até mesmo leis de comportamento humano, como vemos
mais tarde naquela mesma Parashá as leis sobre prejuízos causados, disputas
entre pessoas, roubos, etc.
A mesma ideia se aplica na Mitsvá de Shmita,
em nossa Parashá. Shmita representa a união do povo, quando durante um ano,
todos podem pegar um do campo do outro, não existe diferença entre alguém pobre
e rico. Ninguém pode trabalhar em sua terra. Cada integrante de Am Israel é
responsável por seu amigo. Somos um povo. Por mais que isso não ocorra
geralmente, pelo menos em um ano a cada sete, são colocadas de lado as
diferenças, e todos se encontram no mesmo status: não podem trabalhar suas
terras. A Torá aplica um
pouco as leis socialistas em nossa vida, para nos mostrar que tudo depende de
Hashem (esse assunto é um shiur por si só).
A Torá não quer
que pensemos que apenas leis propriamente espirituais foram dadas no Har Sinai,
nos foram transmitidas por Hashem, porém leis que envolvem o relacionamento com
a outra pessoa, pertencentes a assuntos físicos e mundanos, foram deixadas de
lado. Não podemos pensar: “é importante estudar Torá,
ser tsadik, porém a forma como me relaciono com aqueles à minha volta não é tão
importante.” Por isso a Torá nos conta que justamente essa Mitsvá de Shmita,
ligada à união do povo e ao auxilio ao próximo, foi dada no Har Sinai, ou seja,
possui a mesma grandeza espiritual das outras Mitsvot dadas naquela ocasião.
Não é à toa que Parashat Behar
sempre é lida na época de Sefirat Haomer, quando os alunos de Rabi Akiva
pecaram justamente em assuntos relacionados ao respeito ao próximo, e foram
severamente punidos. Em nossa comunidade, temos vários exemplos vindos de
pessoas de altas patentes, de como não devemos agir. Pessoas importantes, porém que só
pensam em seus próprios interesses, em detrimento do bem maior das pessoas e do
desenvolvimento e avanço da comunidade. Temos de ter sempre em mente que da
mesma forma como nos relacionamos com o próximo, Hashem se relaciona com a
gente. Que a lição de Shmita esteja sempre na paute de nossas reuniões.
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