Na Parashá dessa semana (Emor), temos a famosa leitura da Torá que é lida fora de Israel em alguns dias de Yom
Tov das festividades judaicas. Essa porção nos descreve justamente detalhes
sobre as festas. Sobre a festa de Shavuot, a próxima em nosso calendário, a Torá ordena trazer um korban especial, além de todos os
outros sacrifícios que são normalmente trazidos nas festividades em geral,
chamado “shtei halechem” (os dois pães). O interessante sobre esse korban é o
fato dele ser oferecido especificamente com chamets; devem ser trazidos para o
Beit Hamikdash pães fermentados. Além dessa oferenda, apenas uma outra também
possuía chamets, o korban Todá.
É notável o fato que esse korban
com chamets vem exatamente em Shavuot, a festa que ocorre 50 dias depois de
Pessach, quando éramos proibidos de comer e até mesmo possuir uma migalha de
chamets. Que contraste! Em um Yom
Tov chamets é absolutamente
proibido e em outro, não só é permitido, mas até mesmo um sacrifício de chamets
é mandatório. Essas duas festividades parecem se contradizer! O que mudou de
uma para a outra?
A resposta é Sfirat Haomer, os
50 dias de transição entre Pessach e Shavuot; uma transição entre a matsá e o chamets.
Pessach e Shavuot não são duas festividades separadas uma da outra, mas sim uma
continuação, o fechamento de um processo que dura 50 dias.
Dizem nossos sábios que a
pessoa deve sempre ter um pouco de chamets em sua vida. Ambição é importante
para o crescimento. É preciso ter um tanto de orgulho, mas da maneira certa. A
única forma de esse sentimento influenciar beneficamente a pessoa, é se existir
na perspectiva correta. Por isso, antes da festa de Shavuot, temos Pessach,
quando comemos matsá, o símbolo da humildade. Primeiramente temos de apelar ao
extremo, ser totalmente humildes, para que possamos ter o equilíbrio certo
entre o orgulho e modéstia. Porém,
Pessach não é o suficiente para aprendermos completamente a mensagem da
humildade. Precisamos dos 50 dias de Sfirat Haomer para interiorizar da melhor
maneira possível o ensinamento da matsá, antes de alcançarmos o recebimento da
Torá. Isso que quer dizer o comentarista Ramban (Nachmanedes) quando ele
escreve que Sfirat Haomer é como se fosse um Chol Hamoed entre Pessach e
Shavuot. Estes não são chaguim diferentes, mas sim duas partes de um longo
processo que se inicia com o primeiro, e acaba com o segundo.
Os dias de Sfirat Haomer atuam
como uma ponte entre a humildade da matsá e o sentimento de orgulho expresso
pelo sacrifício dos pães de Shavuot. Sem a devida preparação em Sfirat Haomer,
sem nos prepararmos e trabalharmos nossos defeitos, não conseguiremos chegar no
dia do recebimento da Torá em alto nível. As coisas não acontecem por acaso. Preparação
é necessária em tudo o que fazemos em nosso dia-a-dia. Quando vamos a alguma
reunião, a algum encontro, sempre nos preparamos antes. Quando temos uma
difícil tarefa para cumprir, não adianta chegar na hora e tentar improvisar. O
mesmo se aplica em Shavuot. Não é possível chegar no dia da festa sem ter se
preparado e tentar sentir a espiritualidade da data.
Certa vez, perguntaram a um
jogador de beisebol que fazia parte do All Star Team, a seleção dos melhores do
campeonato: “o que você faz para ser tão bom?” Ele respondeu: “em todos os
jogos, faço questão de chegar duas horas antes no estádio. Assim, tenho tempo
para me trocar, amarrar meus tênis, me alongar, e estar pronto e preparado para
atuar da melhor maneira possível”. Se um jogo de beisebol necessita tamanha
preparação, imaginem então o dia do recebimento da Torá!
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