quinta-feira, 27 de março de 2014

Dvar Torá - Tazria

Fale Positivo

A Parashá dessa semana e a da próxima semana tratam do assunto de tsará, um tipo especial de lepra. A Torá nos relata quais são os casos de tsará e qual o processo para sua cura. A fim de se purificar das impurezas da tsará, um individuo devia trazer dois pássaros para o Mishkan. Um deles era sacrificado e o outro era enviado de volta ao campo. Qual o significado por trás desses dois pássaros? Especialmente o que era mandado para o campo, qual era o objetivo em pegá-lo, trazê-lo para o Mishkan, somente para manda-lo embora?
Todos conhecemos a famosa explicação que uma pessoa pegava tsará por causa de lashon hará, falar mal do outro indivíduo. Na verdade, essa explicação é dada pela Guemará, no tratado de Erchin. Lashon hará é um pecado que inclui duas partes: a ação de falar mal de outra pessoa, e os resultados que saem dessa ação. Pode ser então que os dois pássaros eram uma kapará, uma expiação à esse pecado de lashon hará. O primeiro era sacrificado para perdoar o fato de a pessoa ter feito a ação errada de emitir comentários depreciativos sobre o outro. E o pássaro que era enviado embora representava uma kapará das consequências ruins, resultado da fala da pessoa. Assim como este voava para longe, os resultados da lashon hará iam longe.
Uma vez uma pessoa perguntou ao Chafets Chaim, famoso por seu livro sobre lashon hará, o que fazer para ser perdoado deste pecado. O rabino respondeu: “pegue um travesseiro de penas, abra-o e jogue-o no vento”. “Mas isso é impossível!”, disse o homem. Respondeu o Chafets Chaim: “assim também é com lashon hará. Após falar mal de alguém, é impossível controlar os danos”.
Esse é um jeito de explicarmos as funções dos dois pássaros. Porém, outros comentaristas dizem que há outro motivo para esta kapará peculiar de mandar um dos pássaros embora. Da mesma forma como não podemos falar mal dos outros, quando podemos falar algo positivo e não o fazemos, também somos culpados por isso. Quando deixamos de dizer palavras de apoio, encorajamento ou estimulo à alguém, não sabemos as boas consequências que virão disso. Às vezes, cada um de nós recebe a responsabilidade de influenciar outras pessoas positivamente, e essa oportunidade deve ser aproveitada. Quando isso não é feito, pode ser considerado um pecado; a falta do bom também é considerada ruim. Por isso, mandavam o segundo pássaro embora, para perdoar a pessoa por qualquer vez que ela deveria ter dito algo positivo e não o fez. Assim como o pássaro foi embora e não voltará mais, aquela chance foi embora e não virá novamente.

Aqui cabe uma famosa história: Certa vez, três trabalhadores de um frigorifico ficaram presos dentro do freezer principal. Ninguém os viu, e estavam quase fechando a fabrica após os trabalhos daquele dia, quando de repente o porteiro anunciou: “Ainda falta três pessoas saírem!” “Como assim? Já trancamos tudo, não achamos ninguém!”, lhe perguntaram. Respondeu o porteiro: “todos os dias, especificamente três pessoas dessa empresa me desejam um bom dia quando chegam e uma boa noite quando saem. Hoje, porém, me lembro do bom dia, mas ainda não recebi o ‘boa noite’, que eu espero ansiosamente todos os dias.” No final, os trabalhadores foram achados, mas caso isso não acontecesse, não iriam conseguir sair vivos de lá. Nem sempre palavras positivas salvarão vidas. Porém elas podem certamente enriquecer o dia a dia de todos em nossa volta.

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