quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Lech Lechá - Avraham e suas dívidas


Entre os muitos adjetivos que podemos usar para definir Avraham Avinu, talvez o menos lembrado, apesar de ser muito importante, seja “orador”. Nosso patriarca, o primeiro homem a perceber sozinho que esse mundo é gerido por uma força superior, costumava conversar com todos a sua volta e explicar sobre a presença de um único D’us. Avraham conseguiu convencer muitas pessoas a aderirem à sua ideologia.
Onde vemos isso? No inicio de nossa Parashá. Quando Avraham se preparava para ir em direção à terra de Knaan, diz o passuk: “E Avraham pegou Sara, sua esposa...e todas as almas que eles haviam adquirido em Charan” (Lech Lecha 12,5). Rashi explica que essas “almas” que Avraham havia adquirido eram na verdade pessoas que ele havia integrado ao judaísmo. Existe, porém, um outro passuk de onde podemos aprender essa ideia, mesmo que não diretamente, e que nos ensina uma importante lição.
Assim que Avraham chegou em Knaan, Hashem lhe enviou um teste, e ele teve que descer para o Egito por causa de uma fome pesada que tomou conta da região. No Egito, após uma confusão com o rei relacionada a sua esposa, Avraham foi expulso, e, para garantir que que ele nunca mais voltasse, lhe foi entregue uma enorme fortuna. Em seu caminho de volta para a terra de Israel, diz o passuk que Avraham “foi nas suas viagens” (Lech Lecha 13,5). Essa linguagem não faz nenhum sentido, e requere uma explicação. Rashi, como não podia deixar de ser, nos dá uma luz e diz que esse passuk quer nos dizer que Avraham fez questão de, na volta, passar por exatamente as mesmas estalagens onde havia se hospedado na ida, a fim de quitar as suas dívidas.
Essa explicação, porém, apesar de nos fazer entender melhor o que o passuk quer dizer, parece não fazer sentido. Como Avraham poderia ter saído dos hotéis sem pagar pela sua estadia? Afinal, ele nem sabia se voltaria! Será que Avraham, conhecido por sua bondade e honestidade, agiria como um inadimplente?
Explica o Rebe Yechezkel de Kuzmir (1755-1856, Polônia) que devemos entender o passuk de uma maneira completamente diferente. Avraham realmente saiu das estalagens com uma dívida. Porém, essa não era financeira. Avraham nunca sairia de algum lugar devendo dinheiro a alguém. A dívida, na verdade, era intelectual. O que aconteceu foi que em meio aos seus discursos acerca da existência de um único D’us onipresente, Avraham, frequentemente, era questionado por pessoas que não aceitavam a sua tese. Alguns desses, iam além e questionavam o seguinte: se D’us é bom, como você diz, por que você sofre tanto? Por que D’us mandou fome para a terra de Knaan, justamente logo depois de você ter chegado? Naquele momento, Avraham, apesar de acreditar plenamente em D’us, não tinha uma resposta para essa pergunta, e foi embora com essa “dívida”. Somente após a sua passagem pelo Egito, ele percebeu que tudo foi para o bem, após ter saído de lá com muitas posses, uma grande fortuna, e com um alto status social, depois de ter lidado e subjugado o rei. Então, em seu caminho de volta, ele passou pelas estalagens onde havia se hospedado, para “quitar as suas dívidas”, e mostrar para aqueles que o haviam questionado, como no final tudo foi para o bem.

Em nossas vidas, muitas vezes também não entendemos o motivo dos acontecimentos que presenciamos. Não conseguimos prever onde vamos chegar, o que está para acontecer. Mas, assim como Avraham, temos de acreditar que tudo o que acontece é para o bem, e se não parece estar sendo no momento, é porque futuramente vai acarretar num bem maior.

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Um comentário:

  1. Meditação muito oportuna no meu momento atual, e acalmou meu coração. B"H

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