Entre
os muitos adjetivos que podemos usar para definir Avraham Avinu, talvez o menos
lembrado, apesar de ser muito importante, seja “orador”. Nosso patriarca, o
primeiro homem a perceber sozinho que esse mundo é gerido por uma força
superior, costumava conversar com todos a sua volta e explicar sobre a presença
de um único D’us. Avraham conseguiu convencer muitas pessoas a aderirem à sua
ideologia.
Onde
vemos isso? No inicio de nossa Parashá. Quando Avraham se preparava para ir em direção
à terra de Knaan, diz o passuk: “E Avraham pegou Sara, sua esposa...e todas as
almas que eles haviam adquirido em Charan” (Lech Lecha 12,5). Rashi explica que
essas “almas” que Avraham havia adquirido eram na verdade pessoas que ele havia
integrado ao judaísmo. Existe, porém, um outro passuk de onde podemos aprender
essa ideia, mesmo que não diretamente, e que nos ensina uma importante lição.
Assim
que Avraham chegou em Knaan, Hashem lhe enviou um teste, e ele teve que descer
para o Egito por causa de uma fome pesada que tomou conta da região. No Egito, após
uma confusão com o rei relacionada a sua esposa, Avraham foi expulso, e, para
garantir que que ele nunca mais voltasse, lhe foi entregue uma enorme fortuna.
Em seu caminho de volta para a terra de Israel, diz o passuk que Avraham “foi nas
suas viagens” (Lech Lecha 13,5). Essa linguagem não faz nenhum sentido, e requere
uma explicação. Rashi, como não podia deixar de ser, nos dá uma luz e diz que
esse passuk quer nos dizer que Avraham fez questão de, na volta, passar por
exatamente as mesmas estalagens onde havia se hospedado na ida, a fim de quitar
as suas dívidas.
Essa
explicação, porém, apesar de nos fazer entender melhor o que o passuk quer
dizer, parece não fazer sentido. Como Avraham poderia ter saído dos hotéis sem
pagar pela sua estadia? Afinal, ele nem sabia se voltaria! Será que Avraham,
conhecido por sua bondade e honestidade, agiria como um inadimplente?
Explica
o Rebe Yechezkel de Kuzmir (1755-1856, Polônia) que devemos entender o passuk de
uma maneira completamente diferente. Avraham realmente saiu das estalagens com
uma dívida. Porém, essa não era financeira. Avraham nunca sairia de algum lugar
devendo dinheiro a alguém. A dívida, na verdade, era intelectual. O que
aconteceu foi que em meio aos seus discursos acerca da existência de um único D’us
onipresente, Avraham, frequentemente, era questionado por pessoas que não aceitavam
a sua tese. Alguns desses, iam além e questionavam o seguinte: se D’us é bom,
como você diz, por que você sofre tanto? Por que D’us mandou fome para a terra
de Knaan, justamente logo depois de você ter chegado? Naquele momento, Avraham,
apesar de acreditar plenamente em D’us, não tinha uma resposta para essa
pergunta, e foi embora com essa “dívida”. Somente após a sua passagem pelo
Egito, ele percebeu que tudo foi para o bem, após ter saído de lá com muitas posses,
uma grande fortuna, e com um alto status social, depois de ter lidado e
subjugado o rei. Então, em seu caminho de volta, ele passou pelas estalagens
onde havia se hospedado, para “quitar as suas dívidas”, e mostrar para aqueles
que o haviam questionado, como no final tudo foi para o bem.
Em
nossas vidas, muitas vezes também não entendemos o motivo dos acontecimentos
que presenciamos. Não conseguimos prever onde vamos chegar, o que está para
acontecer. Mas, assim como Avraham, temos de acreditar que tudo o que acontece é
para o bem, e se não parece estar sendo no momento, é porque futuramente vai
acarretar num bem maior.
Obs.:
cada Parashá possui mais de um Dvar Torá. Você pode encontrá-los através dos
marcadores no site, ou através da ferramenta de busca.
Obs.
2: caso deseje receber um aviso quando o Dvar Torá for postado, envie um email
para blogdodvartora@gmail.com.
Meditação muito oportuna no meu momento atual, e acalmou meu coração. B"H
ResponderExcluir