Neshot
Hakotel (mulheres do Kotel) são um grupo de mulheres que decidiu rezar em voz
alta no Kotel. Colocam Tfilin, e, inclusive chegam a ler a Torá. Querem se
comportar como homens, apesar de não precisarem (e não poderem) fazer tudo
isso. O governo israelense, inclusive, abriu faz alguns meses uma sessão especial
no Kotel, onde homens e mulheres podem rezar juntos. Uma tristeza.
Provavelmente,
as Neshot Hakotel possuem boas intenções. Não creio que elas tenham como
objetivo importunar os outros. No ponto de vista delas, essa é a melhor maneira
através da qual elas sentem que podem servir a D’us. Porém, apesar de suas intenções
serem positivas, falta um ingrediente fundamental em seu raciocínio.
Na
Parashá dessa semana, encontramos a criação das roupas especiais dos Kohanim, e
a finalização da construção do Mishkan. Desde a Parashá passada, ao relatar a construção
do santuário, a Torá usa diversas vezes uma mesma expressão. Por volta de vinte
vezes, cada vez que o passuk termina de descrever algum processo, constam as
seguintes palavras: “como ordenou Hashem à Moshe”. Qual a necessidade de se
repetir isso tantas vezes? Será que não sabemos que tudo o que foi feito seguiu
as ordens de Hashem? Mesmo que a Torá quisesse enfatizar essa ideia, não seria
suficiente escrever essas palavras uma vez, no começo ou no fim da construção do
Mishkan?
Responde
o Beit Halevi (1820-1892, Rússia) que o objetivo disso é enfatizar uma mensagem
muito importante, que inclusive é muito atual. Dizem nossos sábios que a construção
do Mishkan foi uma expiação ao pecado do bezerro de ouro. Qual foi o motivo de
tal pecado? Como o povo chegou num nível tão baixo? Diz o Beit Halevi que as intenções
de Am Israel eram as melhores possíveis. Ao ver que Moshe, o seu emissário, não
havia descido do Har Sinai, Am Israel resolveu construir algo para atuar em seu
lugar, um objeto onde a santidade poderia pairar a fim deles se conectarem com
Hashem da melhor maneira possível. Só havia um problema. Hashem não lhes havia
ordenado. O povo agiu segundo seus próprios instintos, e esqueceu que há uma tradição
e uma hierarquia.
A
construção do Mishkan veio para contrastar exatamente isso. Assim como o bezerro
de ouro, a ideia era se conectar com Hashem. Fazer pedidos, se desculpar,
oferecer sacríficos. Porém, a grande diferença é que Hashem ordenou a construção
do Mishkan. E isso muda tudo. Por isso a Torá fez questão de salientar
numerosas vezes que tudo o que foi feito seguiu à risca o que Hashem havia
ordenado a Moshe, e isso ajudou a expiar o pecado do bezerro de ouro.
Inovação
é uma palavra constantemente encontrada no mundo moderno. Todo o conceito de
Start Ups é baseado em inovação. Porém, quando o assunto é judaísmo, é preciso
ter muito cuidado. As intenções podem ser as melhores, a pessoa pode ter
certeza que sua ideia é sensacional, porém é preciso obter a confirmação de lá
de cima. Rodrigo Constantino escreveu certa vez em seu blog que um dos
principais motivos que explicam a sobrevivência dos judeus por tantos anos, e o
seu sucesso no mundo atual, é o fato deles serem “o povo do livro”. Passam suas
tradições de pai para filho, educam suas crianças a fazer o que se espera
segundo os preceitos judaicos. Portanto, antes de inovar, mudar, inventar condutas,
é necessário que se consulte os livros e aqueles que os escrevem, para
averiguar qual é a real vontade divina.
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