Hoje todos ficamos um pouco aliviados ao ficar sabendo que
o dólar caiu um pouco. Como é ruim ter a nossa moeda desvalorizada! Tudo de
repente fica mais caro, e estou sentindo isso na pele aqui nos Estados Unidos.
Mas pera aí! O que significa o valor de nossa moeda? Como se julga o valor que tem o Real? Comparando-o ao dólar! O real é valorizado quando o dólar cai, ou seja, é um valor relativo. Essa maneira de analisar quanto vale algo, baseando-se em sua relatividade com outra coisa é exatamente o contrário do
que a Parashá dessa semana quer nos ensinar.
Quando analisamos a Parashá dessa semana, percebemos que
sua maioria trata do assunto de tsarat, a lepra que era encontrada no corpo, na
roupa ou na casa de uma pessoa, quando esta falava lashon hará. Porém, antes
desse assunto, no inicio de nossa Parashá, a Torá dedica alguns psukim para abordar
um conceito à principio completamente diferente: a impureza que recai sobre a
mulher ao dar a luz. Se uma mulher da a luz a um menino, ela fica impura por 7
dias, e se é uma menina, 14 dias. Essa é a introdução para as halachot de
tsarat.
Temos de entender qual é a conexão entre tumat leida
(impureza do nascimento) e tsarat. O que tem a ver o nascimento de uma criança
com essa doença que um pessoa recebia ao falar lashon hará? Além disso, essa
lei que a mulher fica impura ao dar a luz é um pouco estranha. Geralmente
relacionamos a impureza à perda da vida. Por que então quando nasce uma nova
vida, a mãe fica impura?
Essas duas perguntas estão na verdade relacionadas, e ao
responder uma, conseguiremos também chegar numa resposta para a outra. Citamos
acima que tsarat recai sobre uma pessoa quando ela fala lashon hará. Falando um
pouco de psicologia, por que alguém fala lashon hará? O que uma pessoa vê de
positivo em falar mal de outra pessoa? Rashi no inicio de Parashat Metsorá
explica que lashon hará é resultado do sentimento de orgulho de uma pessoa. Em
outras palavras, alguém chega a falar lashon hará geralmente porque se
considera “bom demais”. Devido ao alto degrau no qual se coloca, a pessoa não
aprecia os outros, os desvaloriza, chegando a emitir comentários depreciativos.
Ou, uma outra opção, uma pessoa quer se considerar mais importante, melhor que
os outros, porém sabe que isso não é verdade, então ela procura argumentos e
fala mal daqueles que são uma ameaça à sua soberania, rebaixando-os e assim se
auto elevando.
O problema da pessoa que fala lashon hará é que ele só se
sente valorizado quando se compara aos outros. O seu valor é relativo ao das
outras pessoas. E a solução disso se encontra na percepção de que cada um nesse
mundo possui a sua própria importância, a contribuição de um não é maior do que
a de outro. Se a pessoa entender isso e viver constantemente com esse
pensamento, ela não denegrirá os outros. Se ela simplesmente perceber o valor
de sua própria contribuição em sua vida e na vida das pessoas ao seu redor, não
sentirá mais a necessidade de rebaixar os outros para se sentir bem.
Por isso que a Torá traz a impureza da mulher que acabou de
dar a luz como uma introdução ao assunto de tsarat. Por que ela fica impura?
Pois uma criança acabou de deixar o seu corpo. Não importa que essa criança não
tenha feito nada ainda nesse mundo (além de chorar). Não importa que os seus
atos significativos só virão no futuro, quando ela amadurecer. O que importa é que
esse bebê tem o potencial de futuramente contribuir para a sociedade. Por isso
quando a mãe da a luz, ela perde essa fonte de potencial, de vida, que antes
estava em seu corpo, ficando tmeá.
A halachá de tumat leida nos ensina que todos são criados
iguais, com o mesmo potencial de contribuição. Por isso esse assunto é trazido
justamente antes das leis de tsarat, que tem origem exatamente em um pensamento
oposto à essa lição. Às vezes nos esquecemos disso, acabamos nos rebaixando e
não dando a estimação certa aos nossos atos. Vem então Parashat Tazria e nos
ensina que todos possuem um alto valor, cada um contribuindo de sua devida
maneira para este mundo, para a sociedade, para seus amigos e sua família. Não julgue a alguém da maneira
como o real e o dólar são julgados. Dê a cada um o preço que ele, por si só,
merece.
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