Essa semana iniciaremos a leitura do livro de Vaikrá, que
trata, como todos sabem, principalmente dos korbanot, as oferendas oferecidas
no Mishkan
e no Beit Hamikdash. Pode não parecer tão fácil encontrar um Dvar Torá sobre
esse assunto, que muitas vezes propõe uma ideia tão teórica e nada prática, porém
sempre podemos aprender alguma lição, de todas as leis e explicações presentes
na Torá.
Está escrito no inicio de nossa Parashá: “Um homem que
sacrificar uma oferenda para Hashem”. Como estamos introduzindo o conceito,
falemos um pouco sobre os sacrifícios em geral (escrevi sobre o motivo dos
korbanot ano passado e se encontra no site, na marcação com o nome de nossa
Parashá).
Ao pesquisarmos um pouco sobre o assunto de Korbanot no
Tanach, encontramos um fato peculiar. Muito é falado sobre o oferecimento de
korbanot por pessoas pecadoras. Hashem não aceita o sacrifício de alguém que
não esteja disposto a mudar o seu comportamento. Como assim? Os profetas
criticaram várias vezes Am Israel, dizendo que é muito grave o fato de
oferecerem sacrifícios mas continuarem com suas más condutas. Por exemplo, o
profeta Yeshaiahu disse para o povo, que havia saído do caminho e cometido
muitos pecados: “Por que eu preciso de seus korbanot, diz Hashem”, querendo
dizer que Hashem não quer as oferendas de pessoas que continuam pecando. A
mesma ideia é encontrada em outros livros do Tanach.
A pergunta que existe é muito simples: por que essa ênfase
especial em pessoas que oferecem sacrifícios sem intenção de melhora? Por que
isso é tão ruim, a ponto de ser chamado de abominação no livro de Mishlei? Além
disso, por que Hashem não rejeita outras mitsvot cumpridas por estas pessoas,
como shabat ou tfilin, como ocorre com os korbanot?
A resposta se encontra no objetivo dos korbanot. Eles
possuem uma característica especial, que outras mitsvot não têm. Muitas das oferendas
no judaísmo possuem o objetivo de perdoar aqueles que acabaram cometendo um
pecado. Como isso funciona? O sacrifício de um animal cria uma conexão muito
forte entre o ser humano e Hashem. E nessa hora a pessoa deveria considerar como esse processo estivesse
acontecendo com ela própria, reconhecer o seu erro, e tomar medidas para
melhorar. É mais ou menos como o conceito das kaparot que fazemos hoje em dia.
Portanto, justamente o principal ponto de um korban é a mudança de atitude da
pessoa. Todo mundo erra, e Hashem sabe disso, porém o que Ele espera é que cada
um corrija os seus erros, ao melhorar a sua conduta. Sendo assim, não adianta
nada alguém oferecer um korban com a intenção de continuar pecando, como
ocorria na época de nossos profetas.
Podemos entender agora o motivo de ser tão grave o
oferecimento de um korban acompanhado do pecado, uma vez que isso vai
exatamente contra todo o seu propósito. Já outras mitsvot não estão ligadas
necessariamente ao perdão, então Hashem aceita essas Mitsvot de qualquer
maneira, não importa quem foi que as cumpriu.
Hoje em dia não temos os korbanot, porém ainda assim suas
mensagens devem ser aplicadas em nossas vidas. Mesmo sem os sacrifícios,
podemos nos conectar com Hashem, fazer pedidos, nos desculparmos. Muitas
opiniões sugerem que esse é o principal motivo de nossas rezas, e faz sentido quando
analisamos os textos que recitamos diariamente. Porém, assim como nos korbanot,
não apenas o ato é importante, mas também o pensamento, a verdadeira intenção
da pessoa. Quando rezamos rapidamente, apenas para cumprir a obrigação, e não
temos nenhum pensamento positivo, não obtemos o melhor efeito possível.
Todos concordam que prestar atenção na reza é uma tarefa
muito difícil, e isso está muito relacionado ao hábito, uma vez que rezamos
todos os dias. Por isso tem que ir aos poucos. Uma sugestão é escolher uma reza
na semana (não mais que uma), na qual prestaremos atenção, leremos o sidur ao
invés de falar de cor, e tentaremos focar em um pouco daquilo que estamos
falando. Melhorar aos poucos nossas rezas fará com que estas obtenham
resultados sem limitações.
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