Todos aqueles que já passaram algum período estudando em Israel
saberão do que estou falando. Muitas vezes, sozinhos, em um país distante,
falando uma língua que bem ou mal não é a nativa, nos deparamos com imprevistos
e problemas que demandam uma rápida tomada de decisão. É aí que crescemos, viramos
independentes, aprendemos a “se virar na vida”. Certas vezes, você simplesmente
não enxerga a solução de uma maneira clara, porém se vê obrigado a agir.
Durante o período que estive em Israel, não me faltaram situações assim, mas
graças a D’us passei por cima de todas elas. A lição mais importante que
aprendi, foi que a pior forma de reagir quando há alguma dificuldade pela
frente, é a passividade.
No inicio da Parashá dessa semana, o Faraó do Egito teve dois sonhos
muitos estranhos. No primeiro, as vacas magras engoliram as gordas, e no
segundo feixes de trigo pequenos e murchos engoliram os grandes e bonitos. Ao
não obter nenhuma explicação convincente para essas duas estranhíssimas visões,
Faraó mandou chamar Yossef, lembrado pelo ministro das bebidas, que o havia
encontrado na prisão. Fica claro o fato de Yossef ser uma pessoa especial
quando ele desvendou os dois sonhos, e revelou ao Faraó os anos de fartura e de
fome que estavam por vir.
Até aqui a historia é bonita, e faz sentido. Porém, a continuação
desse episodio é um tanto peculiar. Imediatamente após acabar de explicar o que
estava por vir, Yossef começou a aconselhar o Faraó sobre como agir na situação
na qual eles se encontravam, como se tivesse certeza que aquelas decisões eram
as que deviam ser tomadas. Parecia que Yossef estava dando ordens para o rei: “E
o Faraó colocará coletores de imposto sobre a terra, e taxarao a terra do Egito,
etc.”
Imagine um estrangeiro, ex presidiário, que acabou de ser liberado
para fazer um favor ao rei. Presente na sala estão os principais ministros de
um dos maiores impérios da época, responsáveis por todas as decisões tomadas.
De repente, logo após solucionar o mistério, esse “intruso” começa a dar ordens
sobre o que deve ser feito. O que passou na cabeça de Yossef que o levou a agir
assim? No que ele estava pensando?
Essa pergunta eu fiz quando estudei o começo da Parashá, no inicio
dessa semana. Discuti com um amigo algumas respostas que encontrei, e gostaria
de compartilhá-las com vocês. Diz o Or Hachaim, famoso comentarista do Chumash
e muito lembrado em nossos Divrei Torá, que
Yossef queria mostrar ao Faraó que não foi à toa que Hashem lhe revelou sobre
os anos de fome que estavam a caminho. Hashem queria que eles agissem. E Hashem
havia mostrado a Yossef a solução do problema. Então ele deveria compartilhar
com os lideres egípcios. Por isso ele “chegou chegando” dando as diretrizes
sobre o que fazer. Outra resposta que o Or Hachaim traz é que essas instruções
não foram ordens de Yossef, e sim uma continuação da interpretação dos sonhos.
Cada detalhe encontrado nas visões do Faraó foi relacionado por Yossef com o
que estava por vir. E Yossef, ao dizer que eles deveriam estocar alimentos
durante os anos de fartura para se alimentarem nos anos de fome, estava
explicando o fato do sonho que as vacas magras justamente “engoliram” as
gordas: para mostrar que eles se sustentariam nos anos de fome (vacas magras)
com a comida dos anos de fartura (vacas gordas). Ou seja, segundo essa
resposta, Yossef não deu ordens ao Faraó, e sim lhe explicou mais um pormenor
do seu sonho.
Porém, há uma terceira resposta. Rabino Pam (1913-2001, Brooklyn)
explica que Yossef, logo após revelar o desafio que estava por vir, se sentiu
obrigado a achar uma solução para o problema. Ele não se conteve. Não conseguiu
se segurar, ver que estava à frente de uma situação complicada, e agir
passivamente. Por isso, apesar de não ter muita moral naquele momento, Yossef,
quase que por inércia, se dispôs a encontrar uma solução aos árduos anos de
fome que ocorreriam num futuro próximo.
Essa também pode ser uma das ligações entre Parashat Mikets e a festa
de Chanuka, quando ela sempre é lida. Em Chanuka, um pequeno grupo de pessoas,
ao se deparar com todas as dificuldades impostas pelos gregos, com a opressão
que seu povo estava sofrendo, se dispôs a agir para dar um fim aos problemas.
Essa é a lição dessa semana, que deve nos acompanhar sempre, mas
principalmente quando nos encontramos em momentos difíceis. É preciso agir. Não
podemos deixar o stress, o nervosismo, a ansiedade tomarem conta de nós a ponto
de nos impedir de tentar encontrar a solução. Pode até não ser a solução ideal,
ou, às vezes, podemos até acabar tomando a decisão errada, porém a pior reação
é a passividade. Quando fazemos nossa parte, o possível, para alcançar os
nossos objetivos, Hashem sempre nos dá a força para obtermos resultados
inimagináveis.
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