quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Mikets/Chanuka - Diga Não À Voz Passiva

Todos aqueles que já passaram algum período estudando em Israel saberão do que estou falando. Muitas vezes, sozinhos, em um país distante, falando uma língua que bem ou mal não é a nativa, nos deparamos com imprevistos e problemas que demandam uma rápida tomada de decisão. É aí que crescemos, viramos independentes, aprendemos a “se virar na vida”. Certas vezes, você simplesmente não enxerga a solução de uma maneira clara, porém se vê obrigado a agir. Durante o período que estive em Israel, não me faltaram situações assim, mas graças a D’us passei por cima de todas elas. A lição mais importante que aprendi, foi que a pior forma de reagir quando há alguma dificuldade pela frente, é a passividade.
No inicio da Parashá dessa semana, o Faraó do Egito teve dois sonhos muitos estranhos. No primeiro, as vacas magras engoliram as gordas, e no segundo feixes de trigo pequenos e murchos engoliram os grandes e bonitos. Ao não obter nenhuma explicação convincente para essas duas estranhíssimas visões, Faraó mandou chamar Yossef, lembrado pelo ministro das bebidas, que o havia encontrado na prisão. Fica claro o fato de Yossef ser uma pessoa especial quando ele desvendou os dois sonhos, e revelou ao Faraó os anos de fartura e de fome que estavam por vir.
Até aqui a historia é bonita, e faz sentido. Porém, a continuação desse episodio é um tanto peculiar. Imediatamente após acabar de explicar o que estava por vir, Yossef começou a aconselhar o Faraó sobre como agir na situação na qual eles se encontravam, como se tivesse certeza que aquelas decisões eram as que deviam ser tomadas. Parecia que Yossef estava dando ordens para o rei: “E o Faraó colocará coletores de imposto sobre a terra, e taxarao a terra do Egito, etc.”
Imagine um estrangeiro, ex presidiário, que acabou de ser liberado para fazer um favor ao rei. Presente na sala estão os principais ministros de um dos maiores impérios da época, responsáveis por todas as decisões tomadas. De repente, logo após solucionar o mistério, esse “intruso” começa a dar ordens sobre o que deve ser feito. O que passou na cabeça de Yossef que o levou a agir assim? No que ele estava pensando?
Essa pergunta eu fiz quando estudei o começo da Parashá, no inicio dessa semana. Discuti com um amigo algumas respostas que encontrei, e gostaria de compartilhá-las com vocês. Diz o Or Hachaim, famoso comentarista do Chumash e muito lembrado em nossos Divrei Torá, que Yossef queria mostrar ao Faraó que não foi à toa que Hashem lhe revelou sobre os anos de fome que estavam a caminho. Hashem queria que eles agissem. E Hashem havia mostrado a Yossef a solução do problema. Então ele deveria compartilhar com os lideres egípcios. Por isso ele “chegou chegando” dando as diretrizes sobre o que fazer. Outra resposta que o Or Hachaim traz é que essas instruções não foram ordens de Yossef, e sim uma continuação da interpretação dos sonhos. Cada detalhe encontrado nas visões do Faraó foi relacionado por Yossef com o que estava por vir. E Yossef, ao dizer que eles deveriam estocar alimentos durante os anos de fartura para se alimentarem nos anos de fome, estava explicando o fato do sonho que as vacas magras justamente “engoliram” as gordas: para mostrar que eles se sustentariam nos anos de fome (vacas magras) com a comida dos anos de fartura (vacas gordas). Ou seja, segundo essa resposta, Yossef não deu ordens ao Faraó, e sim lhe explicou mais um pormenor do seu sonho.
Porém, há uma terceira resposta. Rabino Pam (1913-2001, Brooklyn) explica que Yossef, logo após revelar o desafio que estava por vir, se sentiu obrigado a achar uma solução para o problema. Ele não se conteve. Não conseguiu se segurar, ver que estava à frente de uma situação complicada, e agir passivamente. Por isso, apesar de não ter muita moral naquele momento, Yossef, quase que por inércia, se dispôs a encontrar uma solução aos árduos anos de fome que ocorreriam num futuro próximo.
Essa também pode ser uma das ligações entre Parashat Mikets e a festa de Chanuka, quando ela sempre é lida. Em Chanuka, um pequeno grupo de pessoas, ao se deparar com todas as dificuldades impostas pelos gregos, com a opressão que seu povo estava sofrendo, se dispôs a agir para dar um fim aos problemas.

Essa é a lição dessa semana, que deve nos acompanhar sempre, mas principalmente quando nos encontramos em momentos difíceis. É preciso agir. Não podemos deixar o stress, o nervosismo, a ansiedade tomarem conta de nós a ponto de nos impedir de tentar encontrar a solução. Pode até não ser a solução ideal, ou, às vezes, podemos até acabar tomando a decisão errada, porém a pior reação é a passividade. Quando fazemos nossa parte, o possível, para alcançar os nossos objetivos, Hashem sempre nos dá a força para obtermos resultados inimagináveis.

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