quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Vayerá - Sinta-se Bem Ao Fazer O Bem

Há mais ou menos três anos, quando a festa de Sukot estava terminando, eu precisava arranjar alguém pra me levar para a Yeshivá de Cotia, onde eu passaria Hoshaná Rabá. Perguntei à um amigo mais velho, que já havia saído da Yeshiva, se ele iria de carro para a Yeshiva, e se poderia me dar uma carona. Ele disse que sim, que iria à meia noite (em Hoshaná Rabá passamos a noite estudando, por isso o tardo horário). Às 23:45 me ligou o meu amigo: “Desisti de ir para a Yeshivá”. Ao ouvir isso, logo concluí que minha carona havia ido por água abaixo, e naquela hora não haveria mais ninguém para me levar. Porém, fui surpreendido. “Mas mesmo assim vou te levar, sem problema nenhum”. No final, após minhas recusas não terem adiantado, meu amigo me buscou à meia noite em casa, me levou até a Yeshiva, em Cotia, para imediatamente voltar à São Paulo. Seu ato de bondade dificilmente será esquecido.
A Parashá dessa semana começa com a famosa visita que os anjos fizeram à Avraham e toda a hospitalidade que este lhes ofereceu, dando comida, bebida e descanso para àqueles que estavam disfarçados de pessoas. Deste acontecimento, nossos sábios aprendem a importância de fazer chassed, bondade. Isso fica claro qunado Avraham abandonou a companhia de Hashem para ir receber suas visitas.
O estranho é que não faltam acontecimentos na vida de Avraham que exemplificam o chessed. Toda a sua vida foi construída sob os pilares do altruísmo. Por que então, é enfatizada essa recepção que Avraham fez aos anjos? Se formos pensar, Avraham acabou não ajudando ninguém, uma vez que os anjos não possuem necessidades materiais. Eles fingiam que estavam bebendo e comendo. O que há de tão especial nesse evento para ser considerado o exemplo mor do que é praticar a bondade?
O Midrash nos conta: ao ver que não havia nenhum visitante, Avraham mandou seu escravo Eliezer procurar por alguém para ele poder servir. O servo, ao não encontrar ninguém, voltou e disse ao seu amo: “não havia ninguém”. Avraham respondeu: “não acredito em você”. Sabemos que Eliezer era o responsável por todas as finanças de Avraham. Cuidava de sua casas, de seus pertences. Ele que foi procurar mais tarde uma noiva pra Itschak. Como então Avraham pode não acreditar em seu homem de confiança?
A resposta para essas duas perguntas está no conceito de chssed. Existem dois tipos de bondade. Uma é aquela que fazemos aos outros quando vemos alguém sofrendo, precisando de ajuda. É a bondade que surge devido à um sentimento de piedade e compaixão. Apesar de ser importante, essa não é a bondade verdadeira. E não era a benevolência praticada por Avraham Avinu.
O segundo tipo de bondade é aquele que faz a pessoa ajudar os outros quase que por uma necessidade. É a pessoa ter um profundo desejo de fazer o bem. É a palavra “altruísmo” no seu sentido mais literal. Diz a Guemará no tratado de Shabat, que quando fazemos o chessed na sua forma completa, nos conectamos com Hashem, porque sua essência provem da bondade.
Esse era o chessed de Avraham Avinu. E por isso que ele não acreditou em seu servo quando ele disse que não havia ninguém para ser recebido. Eliezer, ao dizer isso, quis dizer que o fato de não haver ninguém para convidar não era um problema, e sim uma solução. Eles não precisariam receber ninguém, mas isso não era culpa deles, já que as ruas estavam desertas.

Eliezer tinha o primeiro tipo de chessed: se houver alguém precisando de ajuda, eu com certeza o ajudarei, mas se não tiver ninguém, melhor ainda. Avraham, por outro lado, se sentiu muito mal por não poder ajudar ninguém, praticar chessed. Por isso, Hashem lhe enviou os anjos. Podemos entender agora porque a Torá usou justamente o acontecimento da visita dos anjos para nos mostrar o que é chessed e o tamanho de a sua importância. Pois esse é o chessed verdadeiro, aquele que devemos colocar em prática.

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