quinta-feira, 16 de junho de 2016

Nassó - As Responsabilidades de Um Comprometimento


Na corrida presidencial americana, um assunto muito comentado é o caso dos emails de Hilary Clinton. No episodio, Hilary, quando era Secretária de Estado, usou o seu email pessoal para tratar de assuntos confidenciais, o que gerou muita polemica e ainda está sendo investigado. Hilary simplesmente não percebeu que, uma vez Secretaria de Estado, ela era responsável por muitas decisões tomadas, e carregava uma serie de demandas que não existem para pessoas comuns. Ela deveria ter pensado um pouco mais sobre os comprometimentos que a sua posição demandava.
A Parashá dessa semana é a mais longa de toda a Torá, e fala sobre vários assuntos, incluindo a famosa bênção dos Kohanim, proferida na reza da Amidá diariamente pelo Chazan, e nas grandes festas por todos os Kohanim. Porém, vamos focar em um assunto menos conhecido. Alias, um detalhe desse assunto, menos conhecido ainda: uma lei relacionada ao Nazir.
Nazir é uma pessoa que decide dedicar sua vida completamente à Hashem. Ele recebe sobre si virar um Nazir e acata as proibições de cortar os cabelos, tomar vinho ou suco de uva e se impurificar ao tocar em um morto ou ir ao cemitério. Sobre esta última privação, diz o passuk: “para o seu pai, para a sua mãe, para seu irmão ou irmã, não se impurificará com os seus falecimentos, pois a separação para Hashem está sobre si” (Nasso 6,7). Em outras palavras, até mesmo quando um de seus parentes mais próximos falece, um Nazir não pode comparecer ao enterro, pois isto o deixaria impuro.
Nas leis judaicas, há um outro grupo que também não pode ficar impuro: os Kohanim. Porém, existe uma grande diferença entre os Kohanim e o Nazir. Pros primeiros, não existe essa restrição descrita no passuk citado acima. Um Kohen não poderia ficar impuro ao tocar num morto, porém, se tratando de um de seus parentes mais próximos, isso era permitido. A Torá, inclusive, em Parashat Emor, lista especificamente os graus de parentesco pelos quais um Kohen poderia se impurificar. Por que, então, o Nazir era diferente?
Explica o Chinuch (há discussões sobre a autoria do livro, escrito no século 13, na Espanha), que a diferença entre um Nazir e um Kohen se encontra na natureza de cada um deles. A lei em si é que não se pode ficar impuro por nenhum morto. Não há uma diferença entre parentes ou outras pessoas. Porém, o bom senso da Torá entrou em cena, e alterou a lei para os Kohanim. Enquanto o Kohen já nasce com este titulo, e por toda a sua vida carrega as obrigações e restrições que a Torá impõe à sua tribo, um Nazir escolheu, por livre e espontânea vontade, dedicar sua vida à espiritualidade. Sendo assim, tal decisão levou em conta todas as obrigações que carregava. Por isso, Hashem não exigiu de um Kohen que se prive do enterro de seus parentes próximos, pois este não tem escolha e não aguentaria viver com um peso desses. Já alguém que decide ser um Nazir, o fez mesmo sabendo com o que estaria se comprometendo, e, portanto, tem que aguentar esta obrigação.

Quando nos comprometemos com alguma coisa, devemos entender que estamos nos responsabilizando por tudo o que esta decisão pode desencadear. Por isso, temos sempre que pensar bastante e ponderar o que está em jogo, antes de nos pactuarmos com algo sério.

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