quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Vaishlach - Ofereça As Oportunidades

Em agosto de 2012 viajei para a Europa com um amigo nas férias de Av que tínhamos quando estávamos estudando em Israel. Nossa ultima parada antes de retornar à terra santa foi Londres, onde ficamos na casa de sua tia. Logo antes de nosso voo para a cidade da rainha, ligamos e confirmamos o endereço de nossa hospedagem: Western Avenue. Coloquei no Google Maps para poder seguir quando chegasse lá, e me deparei com uma grande e importante avenida no centro da cidade. Ok, tudo certo então. “Mas como chegamos do aeroporto para sua casa?”, perguntou meu amigo a sua tia, que respondeu: “peguem o ônibus que sai do aeroporto, e desçam na primeira parada. A partir de lá, é fácil encontrar a minha rua”. Perfeito.
A diferença entre a nossa Western Avenue (em cima)
e a outra rua que nos enganou.
O problema começou quando descemos do ônibus, à meia noite, e nos deparamos com uma grande avenida, vazia, escura, um lugar que estava longe de ser o centro. Terrenos vazios, arvores, nenhuma alma viva por perto, e um grande viaduto a cortava. Assim começou nossa difícil, quase impossível missão de encontrar a agulha Western Avenue no meio do palheiro de ruas londrinas. De longe, avistamos uma estação de metro, e sem pensar duas vezes fomos até lá. Falamos com o homem da bilheteria, que não conhecia a rua. Um judeu religioso passou, achei que já estaria tudo resolvido, pois aquele era um bairro judaico e todos deveriam se conhecer, mas ele nos disse que nunca tinha ouvido falar nesse nome. Não tínhamos o telefone da tia de meu amigo (haviam se comunicado por Skype, e não estávamos com internet). Cheguei a pensar que iriamos dormir em um banco na estação de metro. Porém, rezamos para que desse tudo certo, e começamos a vaguear pelas ruas, lenda as placas com seus nomes, sem nenhum rumo. Cinco minutos se passaram, cruzamos uma rua bem pequena, meio secundária, e lá estava a placa: Western Avenue.
Após vários anos refugiado na casa de Lavan, onde se casou com suas duas esposas, e teve 11 filhos, Yaakov finalmente se reencontrou com Essav. Esse episodio, narrado nos primeiros psukim de nossa Parashá foi muito dramático. O irmão menor temia que a raiva, o rancor e a vontade de vingança ainda estivessem na pauta de Essav, e por isso, se precaveu antes de encontra-lo. Primeiramente, Yaakov dividiu o seu acampamento em 2, para estar taticamente preparado; depois, rezou para Hashem; e por fim, enviou presentes para apaziguar o irmão. Rashi nomeia cada uma dessas etapas, dizendo que Yaakov se preparou de 3 maneiras: guerra, tfilá e presentes.
Yaakov, realmente foi muito precavido. Mas se considerarmos que essas 3 medidas tomadas possuíam o mesmo objetivo, ou seja, que Yaakov utilizou 3 táticas distintas, porém para o mesmo fim, suas ações parecerão incoerentes. De que adiantaria se preparar para uma guerra, e tentar fazer paz com Essav através dos presentes, se a tfilá não adiantasse? Se ele rezou, e sua reza não foi ouvida, como as duas outras ações funcionariam? E se a reza foi sim bem-sucedida, qual a necessidade do resto? Afinal, tudo depende se lá em cima aceitarão os pedidos e as rezas que fazemos aqui embaixo, certo?
Na verdade, temos de separar a tfilá dos outros dois planos. Ela vem antes, e é a base para que todo o resto desse certo. Não é que Yaakov rezou para Essav não lhe fazer mal, e com o mesmo propósito, preparou-se para uma briga e lhe ofereceu presentes apaziguadores. E sim, ele se preparou, fez tudo o que podia na situação que se encontrava, e o objetivo da reza foi para que tivesse sucesso em suas ações, e que as mesmas fossem o suficiente para lhe salvar.

Só rezar não é suficiente. Pois nem mesmo os maiores Tsadikim contam com milagres sobrenaturais em suas vidas. O milagre existe, mas ele sempre deve vir inserido e camuflado em ações e esforço próprio. Não adiantaria nada se, em Londres, eu e meu amigo ficássemos parados na estação de metro, apenas rezando para acharmos a rua certa. Não nos teletransportaríamos para lá. Por isso, começamos a andar, com confiança, e aí sim o efeito de nossas rezas entrou em ação, e fomos direcionados para o destino correto. É preciso oferecer o copo, para que o mesmo possa ser enchido.

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