Essa semana faz exatamente um ano que começamos com os
Divrei Torá. Não sei se se
passaram exatos 365 dias, porém o primeiro Dvar Torá
escrito foi sobre Parashat Noach. Completamos quase todas Parshiot da Torá (com
exceção de umas duas ou três sobre as quais eu estive impossibilitado de
escrever).
Para mudar um pouco, ao invés de começarmos falando da
Parashá dessa semana, citemos o último passuk da Parashá passada, Bereshit: “E
Noach encontrou graça nos olhos de Hashem”. O que quer dizer essa passuk? À principio,
a explicação básica é que Noach se destacou em sua geração por sua boa conduta
e seus bons atos, e por isso mereceu ser salvo do dilúvio, como é contado na
Parashá dessa semana. Porém, há uma outra explicação para esse passuk, não
apenas diferente, mas oposta ao seu significado básico. Em hebraico, a palavra
“graça” é denominada “Chen”. Chen vem da
mesma raiz que a palavra “Chinam”, que significa “de graça” (até em português
vemos isso: “graça” e “de graça”!) Explica o comentarista Sforno, que o passuk
quer nos dizer que Noach se salvou do dilúvio de graça. O que isso quer dizer?
Na verdade, ele não merecia ser salvo, apesar de seu bom comportamento. Por que
não? Diz o Sforno já que Noach não influenciou as pessoas de sua geração a
melhorarem seus atos e não os direcionou para o caminho certo.
Alguns comentaristas salientam que por esse motivo o
profeta Yeshaia chama, na Haftara dessa semana, o dilúvio de “Mei Noach”, as
aguas de Noach, atribuindo a tragédia que ocorreu à pessoa mais correta da
época. Como se fosse sua culpa. Diz o Zoar que Noach deveria ter rezado por sua
geração, igual Avraham rezou pelos habitantes de Sdom, e assim Hashem talvez os
salvaria. Então o fato de Noach não ter rezado contribuiu para o dilúvio ter
ocorrido. Baseado no Sforno, vemos então outro motivo pelo qual Noach foi
considerado responsável pelo dilúvio: já que ele não ensinou as pessoas de sua
geração e não os influenciou para fazerem o certo. Se Noach tivesse dado um empurrãozinho para seus
conterrâneos irem para o caminho de Hashem, eles poderiam ter repensado os seus
atos e feito tshuva.
Essa é uma bonita explicação. Porém há uma forte pergunta
que cabe aqui. Hashem mandou Noach construir a arca por 120 anos. Com certeza,
com a ajuda de seus filhos, eles poderiam ter feito o trabalho em bem menos
tempo. Por que então Hashem disse para demorarem tanto na construção da tevá?
Todos conhecem a famosa explicação de Rashi
que o objetivo era para que as pessoas vissem, se interessassem com o estranho
fato de um senhor estar construindo uma arca gigante, fossem perguntar pra ele,
e acabassem entendendo que haveria um dilúvio. Assim, passariam a se comportar
direito. Com certeza, Noach cumpriu o mandamento de Hashem, sem duvida avisou
muita gente sobre o dilúvio, e tentou os direcionar para o caminho correto. Por
que então Noach é considerado o vilão da história, ao ser dito que ele nada fez
para tentar influenciar as pessoas de sua época?
A resposta está em um outro Rashi
em nossa Parashá. Diz o passuk que quando começou a chover, Noach e sua família
entraram na arca. Rashi
explica que a Torá precisa
nos dizer que Noach entrou justamente quando começou a chover, para mostrar que
ele não acreditava totalmente que o dilúvio ocorreria. Por isso, só entrou na
arca quando viu que a coisa era realmente séria. O que quer dizer que Noach não
acreditava que aconteceria o dilúvio? Ele passou 120 anos construindo uma arca
e não acreditava que haveria dilúvio?! Não faz sentido!

Aprendemos daqui uma importante lição para o nosso dia a
dia. Se não agimos com convicção, com atitude, as pessoas percebem. Fica claro
que não acreditamos totalmente naquilo que estamos fazendo. Se queremos
influenciar às pessoas em nossa volta, convencê-las de qualquer coisa, elas não
nos levarão a sério. É importante ter certeza no que você realmente acredita,
e, mais importante ainda, mostrar para os outros que você está com sua causa,
literalmente “de corpo e alma”.
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