quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Noach - Acredite, Tenha Certeza e Mostre Isso Aos Outros

Essa semana faz exatamente um ano que começamos com os Divrei Torá. Não sei se se passaram exatos 365 dias, porém o primeiro Dvar Torá escrito foi sobre Parashat Noach. Completamos quase todas Parshiot da Torá (com exceção de umas duas ou três sobre as quais eu estive impossibilitado de escrever).
Para mudar um pouco, ao invés de começarmos falando da Parashá dessa semana, citemos o último passuk da Parashá passada, Bereshit: “E Noach encontrou graça nos olhos de Hashem”. O que quer dizer essa passuk? À principio, a explicação básica é que Noach se destacou em sua geração por sua boa conduta e seus bons atos, e por isso mereceu ser salvo do dilúvio, como é contado na Parashá dessa semana. Porém, há uma outra explicação para esse passuk, não apenas diferente, mas oposta ao seu significado básico. Em hebraico, a palavra “graça”  é denominada “Chen”. Chen vem da mesma raiz que a palavra “Chinam”, que significa “de graça” (até em português vemos isso: “graça” e “de graça”!) Explica o comentarista Sforno, que o passuk quer nos dizer que Noach se salvou do dilúvio de graça. O que isso quer dizer? Na verdade, ele não merecia ser salvo, apesar de seu bom comportamento. Por que não? Diz o Sforno já que Noach não influenciou as pessoas de sua geração a melhorarem seus atos e não os direcionou para o caminho certo.
Alguns comentaristas salientam que por esse motivo o profeta Yeshaia chama, na Haftara dessa semana, o dilúvio de “Mei Noach”, as aguas de Noach, atribuindo a tragédia que ocorreu à pessoa mais correta da época. Como se fosse sua culpa. Diz o Zoar que Noach deveria ter rezado por sua geração, igual Avraham rezou pelos habitantes de Sdom, e assim Hashem talvez os salvaria. Então o fato de Noach não ter rezado contribuiu para o dilúvio ter ocorrido. Baseado no Sforno, vemos então outro motivo pelo qual Noach foi considerado responsável pelo dilúvio: já que ele não ensinou as pessoas de sua geração e não os influenciou para fazerem o certo. Se  Noach tivesse dado um empurrãozinho para seus conterrâneos irem para o caminho de Hashem, eles poderiam ter repensado os seus atos e feito tshuva.
Essa é uma bonita explicação. Porém há uma forte pergunta que cabe aqui. Hashem mandou Noach construir a arca por 120 anos. Com certeza, com a ajuda de seus filhos, eles poderiam ter feito o trabalho em bem menos tempo. Por que então Hashem disse para demorarem tanto na construção da tevá? Todos conhecem a famosa explicação de Rashi que o objetivo era para que as pessoas vissem, se interessassem com o estranho fato de um senhor estar construindo uma arca gigante, fossem perguntar pra ele, e acabassem entendendo que haveria um dilúvio. Assim, passariam a se comportar direito. Com certeza, Noach cumpriu o mandamento de Hashem, sem duvida avisou muita gente sobre o dilúvio, e tentou os direcionar para o caminho correto. Por que então Noach é considerado o vilão da história, ao ser dito que ele nada fez para tentar influenciar as pessoas de sua época?
A resposta está em um outro Rashi em nossa Parashá. Diz o passuk que quando começou a chover, Noach e sua família entraram na arca. Rashi explica que a Torá precisa nos dizer que Noach entrou justamente quando começou a chover, para mostrar que ele não acreditava totalmente que o dilúvio ocorreria. Por isso, só entrou na arca quando viu que a coisa era realmente séria. O que quer dizer que Noach não acreditava que aconteceria o dilúvio? Ele passou 120 anos construindo uma arca e não acreditava que haveria dilúvio?! Não faz sentido!
Rav Yaakov Kaminetsky (1891-1986, Lituania, EUA) explica que Noach na verdade acreditava que haveria o dilúvio. Sabia que o mabul iria acontecer. O que ele não tinha era uma crença completa, não tinha convicção, o seu coração não estava totalmente dominado por este fato. Profundamente, ele não deu importância ao tamanho do problema que ocorreria. Por isso, mesmo que Noach falou para as pessoas sobre o mabul, elas não acreditaram nele, não o levaram a sério, uma vez que viram que ele não tinha tanta certeza. Ele não teve poder de persuasão. Já que Noach não teve uma grande convicção que o dilúvio iria chegar, ele não conseguiu que outros o ouvissem, e por isso foi considerado culpado pelo mabul, sendo salvo, segundo o Sforno, apenas devido à boa vontade de Hashem.


Aprendemos daqui uma importante lição para o nosso dia a dia. Se não agimos com convicção, com atitude, as pessoas percebem. Fica claro que não acreditamos totalmente naquilo que estamos fazendo. Se queremos influenciar às pessoas em nossa volta, convencê-las de qualquer coisa, elas não nos levarão a sério. É importante ter certeza no que você realmente acredita, e, mais importante ainda, mostrar para os outros que você está com sua causa, literalmente “de corpo e alma”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário